segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

As Partículas Elementares



Será possível ser-se extremamente badalhoco – a um ponto que roça o incomodativo – e mesmo assim escrever-se de uma maneira genial? A resposta é sim, mas só se formos Michel Houellebceq.

Este é o segundo livro que conheço do autor e devo admitir que o primeiro que li – O Mapa e o Território (2010) – não me preparou para o que se me ia seguir. Há quem diga que este romance provocou tamanho escândalo, aquando da sua publicação em 1998, que Houellebecq, consciente das necessidades de alargar o seu público-alvo, adoptou de seguida um tom mais puritano, como estratégia para o prémio Goncourt (o mais importante premio francês), que acabou por ganhar. Embora estas especulações me pareçam artisticamente calculistas, não pude deixar de encontrar um pequeno fundamento para as mesmas ao ler As Partículas Elementares (1998). Mergulhamos numa aventura sem retorno pontuada de acontecimentos catastróficos e uma listagem das várias maneiras de masturbação pública possíveis. Fica-se preso assim entre um querer atirar com o livro para a retrete e um não conseguir deixar de o devorar, que só as obras geniais conseguem.
A dimensão psicológica das personagens é-nos explanada segundo um processo de dissecação emocional, que se relaciona com o facto de uma delas ser um biólogo investigador; mas cuja plena razão de ser apenas nos é dada a perceber mais tarde, no epílogo. Tem, de facto, um dos melhores finais que já li. É um daqueles livros em que se percebe que o mesmo foi pensado durante todo o processo da escrita, se é que não foi a própria razão da mesma.
Bruno e Michel são dois irmãos cuja vida falhou, mas, como o autor no-lo dá a entender, o mesmo se passa com cada um de nós. É um relato frio e estranho, completamente diferente de O Mapa e o Território, mas semelhante na medida da sua análise da inevitável solidão humana. O germe do desligamento sentimental explode aqui em toda a força e ninguém é poupado. Para ler com whisky e Água das Pedras (estes podem, dependendo das alturas, ser utilizados em conjunto ou separadamente). 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A Psicanálise do Talhante


Admito que nunca fui muito fascinada por cozinha. Até agora, altura em que decidi começar uma dieta mais saudável, a minha alimentação diária baseava-se muito no pão com queijo e em casos de maior inspiração, pizzas. Adoro pão, pronto, por isso nunca me fez espécie viver assim.
Da carne, então, sempre tive um certo pavor. Cozinhada por mim, sabe-me muito concretamente ao animal morto em questão. Deve ser do processo de ter de pegar nele ainda cru, adivinhá-lo enquanto vivo e outras divagações criativas que tais que, antecedendo o momento da refeição, não a tornam propriamente ideal. Mas a minha vida tinha de mudar, decidi, não queria ser mais a Teresa Pão com Queijo.
Não podia ser.

Como continuava a detestar a carne embalada (por mais condimentos que lhe adicionasse, o animal continuava ali, a espernear-me entre os dentes) comecei a seguir o conselho sábio da minha avó de ir Ao Talho. E descobri um mundo maravilhoso. Claro que para as pessoas normais isto deve parecer completamente estúpido, mas a verdade é que eu nunca tinha ido Ao Talho. Como disse, produtos embalados e pão eram a minha cena. Quanto menos as minhas mãos tocassem na carne, melhor e nunca ter de o fazer era o ideal.

É que se constrói ali todo um novo tipo de relação humana. Temos alguém, geralmente um homem, que também se assemelha a uma figura paternal, gordo ou pelo menos possante. Muitas dos clientes sabem o nome dele, que clamam com submissa alegria, esticando o tickezinho com o respectivo número. Não parece possuir hábitos de higiene muito regulares, no entanto enfia as mãos na nossa comida com o máximo das displicências, ao mesmo tempo que nos aborda com um ar bonacheirão: quanto queremos? (sei lá, por favor ajude-me Sr. Vasco) E é aí que, reparo, se começa a desenvolver entre cliente-talhante toda uma nova relação vagamente familiar: de repente, este homem porco e bruto sabe exactamente de que precisamos (mais tenrinha, menos nervo), de quanto precisamos e quando (venha amanhã, acredite em mim) e para quantas pessoas. Pode revelar ser a maior bodega do mundo, mas é-nos impingida com todo o carinho e amor.
Freud deveria ter certamente qualquer coisa a dizer sobre os talhantes. Eu, por minha vez, descobri todo um novo processo psicanalítico.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O funâmbulo


Vejo um fio condutor e depois não via o fim, sabes, há muito tempo que ando à procura de mandalas, de uma certa forma fizeram-me crer que era esse o meu objectivo, no fundo, se calhar, é simplesmente uma corda.
Quando cá vim pela primeira vez, a corda tinha demasiados nós e eu estava constantemente a encravar. O pior nesses nós é que eu não os via. Havia apenas a vaga sensação de tropeçar em algo que parecia uma barreira muito firme, não sei se me estou a fazer entender. Penso que alguns se foram libertando, até que hoje tudo ficou muito claro. A associação de ideias, que eu achava que ia dar para a desgraça como de costume, afinal levou-me ao meu próprio percurso. E depois percebi que esse não foi mais ou menos perverso, apenas igual, apenas normal.
A primeira imagem significou que me estava a tornar mulher. Depois, a curiosidade. Depois, o primeiro amor. E depois e depois, assim sucessivamente. E lá está, a corda, a corda a desenrolar-se e a desenvolver-se suavemente, e eu nela, caminhando, um pé atrás do outro e se abrir os braços consigo-me equilibrar perfeitamente. Quando às dificuldades, penso agora, são apenas mais um nó da corda contínua. Estarão lá, é certo (não é por acaso que encontro em equilíbrio, a vida é portanto, mas para toda a gente penso, um jogo de funambulismo) mas eu vou desenrolando os nós com os pés e conseguindo avançar. Não vejo nem prevejo, mas sei que vão aparecer vários nós. Por vezes, vou-me desequilibrar. Mas é o que tu dizes: pouco a pouco, vou aprendendo a não deixar que aqueles do passado intervenham no processo de resolver os do futuro. 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Loulé

Este sábado dia 15, Gato Persa Social Club apresentado em Loulé.
Às 15h00, na Biblioteca Municipal.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Orçamento de Estado para 2013

Assinem esta carta aberta para exigir uma mudança de rumo ou a demissão do governo. O documento oficial já foi assinada por personalidades de todas as áreas, incluindo Mário Soares, Siza Vieira, Valter Hugo Mãe, Maria Teresa Horta, Inês Pedrosa e muitos mais.

http://www.peticaopublica.com/?pi=P2012N32810


"O Programa eleitoral sufragado pelos Portugueses e o Programa de Governo aprovado na Assembleia da República, foram em muito excedidos com a política que se passou a aplicar. As consequências das medidas não anunciadas têm um impacto gravíssimo sobre os Portugueses e há uma contradição, nunca antes vista, entre o que foi prometido e o que está a ser levado à prática.
Os eleitores foram intencionalmente defraudados. Nenhuma circunstância conjuntural pode justificar o embuste.

Daí também a rejeição que de norte a sul do País existe contra o Governo. O caso não é para menos. Este clamor é fundamentado no interesse nacional e na necessidade imperiosa de se recriar a esperança no futuro. O Governo não hesita porém em afirmar, contra ventos e marés, que prosseguirá esta política - custe o que custar - e até recusa qualquer ideia da renegociação do Memorando.

«Ao embuste, sustentado no cumprimento cego da austeridade que empobrece o País e é levado a efeito a qualquer preço, soma-se o desmantelamento de funções essenciais do Estado e a alienação imponderada de empresas estratégicas, os cortes impiedosos nas pensões e nas reformas dos que descontaram para a Segurança Social uma vida inteira, confiando no Estado, as reduções dos salários que não poupam sequer os mais baixos, o incentivo à emigração, o crescimento do desemprego com níveis incomportáveis e a postura de seguidismo e capitulação à lógica neoliberal dos mercados."