Dizia Rubem Fonseca – não ouvi, vi na imprensa – por ocasião
da sua visita a Portugal aquando do festival Correntes d’Escritas, que um dos
requisitos do bom escritor é ser um bocadinho louco. Acho que sim. Permito-me
acrescentar outro: a dor. Não conheço praticamente nenhum grande escritor que
não tenha sofrimento no seu texto. E esse vem, intui-se de uma maneira ou de
outra, de uma experiência, porque, por muito imaginativos que sejamos, há
sempre sensações que não podiam estar ali por outra razão. Fundos de verdade
nas entrelinhas sem os quais a autenticidade seria inexistente. Acho,
sinceramente, que as pessoas a quem a vida sempre correu bem, regra geral, não
conseguem produzir boas peças artísticas. O criador. O cria dor. Não me quero
arrogar nada. Não estou sequer a falar de mim, porque é impossível fazer-se uma
autoanálise sóbria nesse sentido (se acho que escrevo bem? Sim, mas se não
achasse não escrevia, por isso quem sou eu para dizer). Apenas falo do que
leio. Nem que seja porque, como dizia Tolstoi, “As famílias felizes são todas
iguais, as infelizes são-no cada uma à sua maneira”. Ou seja: a história, a
interessante, é sempre sobre aquele que sofre. Arte sem
dor não é nada. Dor que se viveu e sentiu, dor que se pariu de novo no momento
repetitivo da criação. Escrever é vomitar. É aliviar uma doença que se tem
dentro e que precisa de sair para nos deixar viver em paz.
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