Arrancou esta semana o Festival Silêncio, com tertúlias,
espectáculos, documentários e outras actividades engraçadas; em quatro espaços
do centro Lisboeta.
Ontem, na Pensão Amor, assistimos a um debate sobre o tema
“O poder da palavra”. O calor apertou, é certo, e a sala esteve a abarrotar, o
que é bom sinal. O local é esta renovada pensão com espelhos e bancos e coisinhas por
toda a parte, que parece ser um dos novos musts da noite lisboeta (tenho-me
ficado pelos bares tipo Roterdão e Oslo, mas já era tempo de vir cá a cima
experimentar isto). De cerveja na mão, pronta para ouvir.
Qual é a diferença, em termos de efeito, entre a palavra escrita e dita? Kalaf fala-nos de Angola, Benguela mais
concretamente, onde tudo o que é impresso ainda tem muito poder.
E o que perdemos ou ganhamos nesta época de imediatismo? O
facto de um momento ter mais importância pode ser um ponto de partida para que
o nosso destinatário tenha de ser seduzido em menos tempo e espaço. Dá-se o
exemplo de Mia Couto, que numa pequena conjugação de sílabas consegue arrasar o
leitor.
Golgona Anghel, de cuja poesia gosto muito, foi uma
interveniente mais tímida, que na minha opinião jogou demasiado pelo seguro e se podia ter exposto um pouco
mais. Não deixou, no entanto, de marcar bons pontos, nomeadamente ao explicar
que nunca leria alguém que quisesse ser visto como um herói da História.
Interessei-me por alguma ideias de Susana Sequeira, como por
exemplo a referência à mudança de paradigma na publicidade, que faz com que esta
agora comunique, não para as massas, mas para cada individuo; o que portanto pode colocar peso na carga
poética da mensagem transmitida.
Nuno Artur Silva falou dos tempos modernos, da necessidade
de sermos todos muito cool e da ironia que exprimimos em relação a nós mesmos e
ao mundo como uma defesa, o que torna a palavra intermediada.
Claro que foi dito muito mais, mas enfim, foi isto que retive. No geral, pareceu-me bastante bom. Quando foi a vez dos
elementos do público intervirem, senti necessidade de ir dar uma volta e ver o
que se passava na Bica. Não é por mal, mas é sempre nessa altura que surgem os
oradores de gaveta que aproveitam para revelar os seus “dotes oratórios”, e
estava realmente demasiado calor.
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