Fui convidada para um jantar de revival, organizado pelos
meus ex-colegas de liceu. Andei nesta escola a juventude toda, por isso são
pessoas que conheço há muito.
Tentei postar um texto no evento, a explicar a minha recusa,
mas, depois de uns problemas técnicos que não o permitiram (era longo demais), resolvi que seria
igualmente bom colocá-lo aqui, e pôr lá o link para o blogue.
Até porque as ideias expressas reflectem a minha opinião
relativa a eventos deste tipo, no geral. E se achei o caso suficientemente importante
escrever tanto, a verdade é que mas vale também publicar aqui.
Olá,
Ia carregar, mais uma vez, no botão de recusar um jantar do
liceu e ocorreu-me que seria interessante explicar.
Até porque eu própria me perguntei: será que devia ir? Mas
não me apetece ir! Mas por que é que não me apetece ir? Será isto normal?
Então, após alguma reflexão, cheguei à conclusão de que não
tenho nada contra estes jantares, nem contra aqueles que os frequentam. No
entanto, há razões muito específicas pelas quais eu escolho não ir:
No liceu, fiz amigos. Pessoas com quem me identifiquei, de
quem gostei e que gostaram de mim. Continuo a falar e a estar com essas
pessoas, e não preciso de um evento à escala da minha antiga escola para me
recordar de que ainda quero estar com eles e ainda gosto deles. Simplesmente,
quando me apetece fazê-lo, pego no telefone e faço-o.
Nos dias que correm, ainda temos o Facebook, uma maneira de
dizer “até te curto, vamo-nos manter em contacto”.
Na minha opinião, é o que acontece às pessoas que querem
estar umas com as outras: se querem, estão, se não querem, não estão. Se
querem, falam, se não querem, não falam.
Eu não me acho melhor do que ninguém. Simplesmente não tenho
paciência para perder uma noite a fingir que “o mundo se meteu entre nós” ou
“ando tão atarefada e...ups, já passaram 10 anos!”. Não, porque não acredito
nesse tipo de acasos. Amigos são amigos e aqueles que ficam, ficam. Mesmo que trabalhem
12 horas por dia ou que vivam no cu de judas.
Portanto, e muito resumidamente: não me levem a mal, mas se
não vos vejo há 15 anos, é porque provavelmente não vos quero ver. E
vice-versa.
De cada vez que encontro alguém do Liceu na rua (alguém com
quem, por “coincidência”, não tenha combinado nada nos últimos 15 anos), é
sempre a mesma conversa: “há tanto tempo”, “temos de combinar alguma coisa”.
Mas sabem que mais? Não, não temos.
Aliás, odeio esse tipo de hipocrisia. Odeio quando alguém me
diz que vai ligar e não liga, ou ter eu própria de estar nesse tipo de posição
em que prometo coisas que não cumpro.
Dos 14 aos 15 anos, fui vítima de bullying. Não estou
ressabiada nem guardo rancor, porque não acredito no mal absoluto, nem no bem
absoluto. No entanto, também não faço questão de me sentar na mesma mesa do que
alguém que, diariamente, me chamava puta e ameaçava de tareia, chamava maricas
aos meus amigos e se gabava de bater em mulheres.
Do mesmo modo, não tenho respeito pelas pessoas que lhe
foram coniventes ou professores que fecharam os olhos. Nos últimos anos, recebi
mensagens (de pessoas que dantes me mandavam mensagens a chamar nomes), como se
nada fosse, a perguntar pela minha vida profissional. Há muita estranheza no
mundo. Eu faço o máximo para não pactuar com ela.
Enervam-me os jantares de revival, em que fingimos ser todos
amigos de pessoas que em tempos detestámos, que nos detestaram ou maltrataram
sem razão, que desprezámos ou nos desprezaram – apenas porque partilhámos a mesma sala de aulas.
Em que se fingem emoções que não se sentem e se dão abraços
sem conteúdo, apenas para aparecer bem numa fotografia.
Em que beijamos pessoas que nunca mais vamos beijar.
Em que se pratica o “gozava contigo na escola mas agora
somos tão amiguinhos” e o “estive na tua turma 5 anos e nunca te dirigi a
palavra, mas agora dá aí o teu cartão porque talvez me dês jeito”.
Não acho que o passado nos defina, mas faz parte de quem
somos e negá-lo é negarmo-nos.
Enervam-me os jantares de revival, também porque nunca
ninguém vai realmente lá para reviver seja o que for. Quer dizer, não duvido
que haja alguns espíritos altamente entusiastas nesse sentido (e entre vocês, pessoas
genuinamente bem intencionadas), mas a maioria vai a essas coisas para jogar ao
perdi-dez-quilos-olhem-para-as-minhas-mamas-novas, ao
a-minha-profissão-é-melhor-do-que-a-tua ou ao
os-meus-filhos-são-mais-giros-do-que-os-teus. E desculpem-me a sinceridade, mas
eu estou-me completamente nas tintas para a vossa profissão e para os vossos
filhos (as mamas novas ainda vá, mas mesmo assim prefiro as genuínas).
Não quero saber quem se meteu na droga, quem foi para stripper,
ou quem ficou milionário. E vocês também não querem saber de mim, o que é
óptimo sinal, porque quer dizer que têm vida própria.
E isto não é um juízo de valor a vosso respeito. Acredito
nas vossas boas intenções. Isto é apenas uma explicação de porque é que eu não
vou, nada mais. Porque me convidaram e porque o Facebook me pede para explicar.
Bom jantar. Àqueles com quem nunca falo: eu não vos odeio!
Apenas me é indiferente saber da vossa vida.
Àqueles com quem quero estar, vão continuar a receber
notícias minhas, porque gosto de vocês. É o que eu faço e é aquilo em que
acredito.
Beijo.
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