A língua inglesa é mais sensível a bons títulos. Com efeito,
pode ser capaz de condensar em uma ou duas palavras aquilo que nós,
portugueses, demoraríamos uma frase a dizer.
Drunk-shaving é um bom exemplo disso: foi um termo que
surgiu em conversa com uma amiga estrangeira, correspondente ao acto de se
fazer a depilação quando se está bêbada.
Para não cair na maior das vergonhas, a mulher tem de se
depilar. É um facto. Não usamos saias, nem vamos à praia, com pelinhos nas
pernas.
Mas fazer a depilação, não há como negá-lo, é chato, dói e
custa um dinheiro parvo.
Às vezes, vale a pena perguntar porquê? É antinatural. As
australopitecas não andavam assim e continuavam a ser atraentes para a espécie.
Hoje em dia, porém, a mulher sexualmente activa tem de ser
uma sereia imberbe, macia que nem uma corça e suave que nem um bebé. Tudo isto
deve surgir muito naturalmente, claro. Até mesmo falar do assunto parece
vergonhoso, como se tivéssemos de o esconder: como se a própria mulher devesse
nascer depilada.
No inverno, não temos de usar saia nem de ir à praia. Nesta época do ano, temporadas existem em que
a mulher solteira leva uma vida relaxada, em que no seu intimo mais se parece
com um homem e isso não tem problema absolutamente nenhum: continua a gostar de
si mesma a achar-se bonita. As suas antepassadas australopitecas sorriem-lhe e
aprovam.
Mas todo esse relaxamento se vai abaixo se aquando de uma
interacção menos inesperada e... eventualmente alcoolizada, resolve levar um
homem para casa. Sem pensar muito no assunto, encontra-se num tête-a-tête
romântico, com um Zé-Manel qualquer pronto a saltar-lhe para cima, e
vice-versa.
E agora? O cérebro não está suficientemente inteligente. O
Zé-Manel é demasiado apelativo. A mulher corre para a casa de banho.
Enquanto o parceiro/a aguarda na sala, provavelmente achando
que ela está a sofrer de diarreia ou a cheirar meio quilo de cocaína, a mulher
não precavida dá inicio ao arrojado processo de fazer o drunk shaving. De
utensílio em riste, desdobra-se em manobras circenses a contra-relógio, palco
para todo o tipo de catástrofes: quedas na banheira, inundações, cortes
profundos ou até queimaduras de segundo grau.
Tudo em nome do sexo, delicado e macio, que nem uma corça.
No dia a seguir, o mais provável é descobrir-se que a coisa
não foi assim tão bem conseguida. É provável que o produto da nossa acção
desemboque num misto de sereia com australopiteca. Ou zebra. Ou uma corsa que
foi chamuscada num poste eléctrico.
Hoje em dia, das duas uma solução para a mulher solteira: ou
vai ter de andar a fazer cálculos mentais constantes (será que pretendo
safar-me esta noite?), ou terá de se tornar perita no drunk shaving.
Será que há aqui alguma coisa que está mal? Não poderíamos
nós, de uma vez por todas, apenas começar a dizer: não fiz a depilação, mas não
faz mal porque... tu também não?
Deixo a questão no ar. E agora com licença, que vou só ali
ao Cabeleireiro da Lisette. Nunca se sabe o que me poderá acontecer hoje à noite
e não quero acordar com a casa de banho a arder.
Acho que a resposta certa é nem ter de dar satisfações. Não conheço homem nenhum que se justifique pela sua barba por fazer ou outra coisa do género.
ResponderEliminarJá tive sexo com mulheres não depiladas no primeiro encontro e não foi por isso que deixou de haver segundo encontro ou mesmo um namoro duradouro...
É o meu ponto singular de vista. E sim, sou um homem :-)