Hoje, estava a fazer a minha bolonhesa e a pensar na Erica
Fontes.
O que é que estas duas coisas têm a ver? Tudo. Absolutamente
tudo.
Bem, agora que esclarecemos isto, penso que podemos ir ao
que interessa, que é o facto de eu achar óptimo que a tão conhecida actriz
pornográfica Erica Fontes tenha escrito um livro. Acho mesmo o máximo. Pois, por
muito que alguns se possam chocar, na minha opinião, a má literatura é necessária e não interfere
de modo algum com a literatura a sério.
Quem se afina com isso são, geralmente, pseudo-intelectuais
com algo a temer.
Se, por outro lado, eu estiver cem por cento segura da
qualidade daquilo que produzo, estou-me perfeitamente marimbando para o facto
de a pessoa ao meu lado no escaparate estar ou não estar a mostrar o cu. Se o
meu vendesse, eu também o mostrava. Ou não. Porque nunca vou saber. O que me
leva a uma questão que me parece importante referir e que a maioria esquece: estamos a falar de mercados diferentes.
Se eu escrevo, por exemplo, poesia, não posso ser
minimamente comparada a uma pessoa que escreve sobre cus. E atrevo-me até a
dizer que é necessário que alguém o faça.
Toda a gente aprecia um bom cu. Há também quem aprecie uma
boa história de merda, sobre uma moça nova que gosta de ser espancada. Depois,
há quem goste de cozinha. É a vida.
Sim, o mundo está todo mal e obviamente, devia haver mais
espaço e publicidade para a boa literatura. Mas infelizmente, não há. E não há
porque nós não queremos. Assim é a humanidade. O que é que vamos fazer,
embirrar e suicidar-nos, ou estarmo-nos nas tintas?
Sempre houve gente com hobbies péssimos. Dantes havia uns
que, por exemplo, gostavam de ver mulheres a serem queimadas. Ou pessoas à
porrada com leões. Hoje, há quem goste de literatura light. A diferença? Ao
menos os que estão a ler estão a aprender a diferença entre “fizeste” e
“fizes-te”.
E ainda há a enorme vantagem do dito cu poder estar a atrair
a atenção para o meu livro, no qual se calhar tanta gente não repararia.
Embirrar com a literatura light é embirrar com o óbvio e é,
a meu ver, para aqueles que têm medo de serem confundidos com a mesma.
Isto para dizer que não estou a ver ninguém a ir ao Colombo
de repente sofrer um grande dilema entre levar Os Irmãos Karamazov ou o Sei Lá,
da Rebelo Pinto. Por outro lado, quase de certeza que alguém poderá deixar o
último para começar a comprar uma bimby a prestações. Estão a ver onde quero
chegar?
Quem compra maus livros, muito provavelmente não iria
comprar os bons. Quem compra os bons, não vai de repente mudar para a Erica
Fontes. A menos que a minha concepção do mundo seja muito ingénua (e assim
quero que continue a ser). E ainda tem a vantagem de permitir que as editoras
façam dinheiro, que provavelmente não teriam se tivessem só de sobreviver dos
bons livros.
E agora, com licença, que tenho a bolonhesa ao lume. Ou a
Erica Fontes, já não sei bem.
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