quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Happy Birthday!


“I am too intelligent, too demanding, and too resourceful for anyone to be able to take charge of me entirely. No one knows me or loves me completely. I have only myself” Simone de Beauvoir

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A Casa com Alpendre de Vidro Cego

Editora Arkheion - 2013

Cheguei a Herbjorg Wassmo porque foi um presente que me deram no Natal e que desapareceu num dia. Talvez seja de mim, mas a história pareceu-me bem actual, embora se passe na altura da Segunda Guerra Mundial. Estamos numa pequena ilha norueguesa e a personagem é Tora, filha bastarda de um soldado alemão morto depois de ter tentado fugir com a mãe. Agora, vive com a mesma e com um padrasto alcoólico e violento.
     O interesse prende-se primeiro pelo ambiente, que me é completamente desconhecido e novo, ao ritmo narrativo, bastante dinâmico, para chegar à paisagem emocional, que é extremamente bem caracterizada, desde a infância da miúda até à adolescência (a saga vai continuar, por mais dois livros, que pessoalmente anseio por ler). Talvez a autora abuse um bocadinho das figuras de estilo, sobretudo na primeira parte; e esse é, basicamente, o único defeito que salta à vista na minha opinião.
            Mas o grande poder do livro prende-se, sem dúvida, pela caracterização das personagens femininas. Não do modo que seria tipicamente de esperar – a nível da vitimização excessiva, por exemplo, ou do louvar da sensibilidade feminina, tão típico de alguns autores homens – mas na criação de novos seres, quase masculinos, ou melhor, andrógenos, cujo poder está tanto na força física, como psicológica e que remete as personagens principais para uma unificadora condição animal. As mulheres são-no, no sentido biológico, mas na sua caracterização consistem sobretudo numa coisa muito mais ampla: são humanos. Humanos contra as forças da natureza, contra a miséria e a tentar lutar pelaa compaixão e pela união.
            Por isso mesmo, por vezes, os homens acabam por parecer um pouco aquilo que me ocorre unicamente chamar de caras de cu (alcoólicos, mexeriqueiros, facilmente deprimíveis, etc), o que pode dar a impressão de que a autora puxa demasiado a brasa à sua sardinha. No entanto, tal parece necessário, no sentido de estabelecer a visão da personagem e o seu universo.

            Recomendo, sobretudo porque é um livro que dá força. Sem pretenciosismos estilísticos, apresenta-nos a vida bruta e fria, mas com tanta simplicidade, que qualquer conflito, por mais duro, parece resolúvel.