terça-feira, 23 de abril de 2013

A televisão e nós: o grande ménage à trois colectivo


Não me levem a mal, eu não tenho nada contra as pessoas que gostam de ver televisão. Pelo contrário, considero-a um acessório lúdico como outro qualquer, tão útil como uma ventoinha ou um vibrador. Critico, no entanto, a importância que este objecto de aparência inofensiva assume nas relações amorosas, ao ponto de se tornar num terceiro elemento mecânico, com pretensões a resolver todo o tipo de contendas e dilemas interpessoais.

Ao principio, está tudo bem, parece. Conhecemos uma pessoa interessante, vamos lá a casa ver um filme, coiso e tal, pronto. Sem problemas.
Pouco a pouco, no entanto, ela torna-se num escape de conforto quando tudo começa a correr mal. Afinal descobre-se que não se tem nada em comum? Não há problema, põem-se as noticias e diz-se mal dos políticos. Não tem uma conversa de jeito: vamos ver um filme? Ai está a ter um ataque de ciúmes outra vez? adoro esta série, por favor, é o último episódio.
Sem mesmo disso nos apercebermos, a televisão começa a ocupar um lugar central nas nossas vidas, um pouco como um acréscimo ou um órgão adicional do casal, sem o qual o último já não se consegue viver. Pior: é, tristemente, por vezes, aquilo que nos mantém juntos. Porque serve uma desculpa para tudo, resolve todos os problemas e no fundo, se virmos bem, acaba por adiar muitas das separações. Estamos demasiado ocupados com outra coisa para nos concentrarmos nos nossos próprios problemas e então vai correndo tudo bem até faltar a luz.

Perguntei-me o que é que as pessoas faziam quando não havia televisão e a resposta não tardou a vir: faziam filhos, conversavam, embebedavam-se, iam a festas, planeavam guerras, ou deitavam-se cedo para acordar às 5 da manhã. Nada disso me parece nem mau nem particularmente melhor. A televisão é apenas o ménage à trois da era pós-moderna, temos de nos contentar com isso e esperar que – se é que já não o faz – a mesma nunca venha a assumir nenhum papel estranho de teor sexual nos assuntos domésticos.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Oficina de Romancistas

Neste mês de Maio, na Escrever Escrever, há também Oficina de Romancistas.




Aqui, aproveita-se o grande material literário para criar um estilo próprio. Este curso tem mais do que um “professor”, aliás, tem muitos: de Tolstoi a Nabokov, de Garcia Marquez a Bolaño, de Faulkner a Roth... Vamos experimentar estilos e géneros diferentes, desde os clássicos à modernidade, aprendendo assim os elementos de base do romance de um modo prático e dinâmico. 


Inscrições:
http://www.escreverescrever.com/verEdicao.php?id_edicao=2425&mes=05

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Oh meu Deus, a senhora da bicicleta está a olhar para mim (outra vez)


Descobri um novo desporto chamado spinning. A maioria dos comuns mortais já o fez há dez anos mas eu, como costumo andar distraída, só agora me apercebi dele e dos seus benefícios.
Para os que nunca experimentaram, o spinning consiste em fazer de conta que se anda numa biclicleta, que na verdade está presa ao chão mas que nos obriga a fazer esforços loucos e suar como um cavalo, fingindo que andamos a tentar subir montanhas ao mesmo tempo que fugimos de um tractor enfurecido ou coisa que o valha. Claro que, segundo alguns, isto é uma actividade sintomática da sociedade urbano-depressiva em que vivemos, que nos faz criar todo um mundo de ilusão sem sentido, quando no fundo devíamos era andar aí ao ar livre a correr com os passarinhos. Não discordo, mas estou-me nas tintas, porque de qualquer maneira não é esse o ponto que quero focar agora.
Gostava era de falar aqui dos meus progressos na actividade do spinning, dos quais descobri que me orgulho bastante.
Devo dizer que as primeiras aulas foram duras para o meu ego. Estava eu nos píncaros, muito orgulhosa da minha actividade, quando ouvi a voz da professora a ressoar pela sala inteira: “Teresa, ao menos tenta fazer alguma coisa.” Cai das nuvens. Alguma coisa? Mas eu achava que estava a fazer tudo bem! Passado o momento de agonia, decidi que tinha de me esforçar. Demorei algum tempo a perceber que estava na verdade a fazer tudo mal e que os reparos não eram despropositados: não sabia colocar o assento correctamente, encontrava-me mal posicionada e raramente me conseguia manter ao ritmo dos meus colegas. Resumindo, era uma nulidade. Escondia—me atrás de uns e de outros, mas a professora encontrava-me sempre e berrava repreensões suadas na minha direcção, através do seu microfone. Muito humilhante. Sou uma intelectual, no entanto, na hora da verdade, é sempre o físico que nos julga. É sempre assim, na grande selva da vida.
Mas eis que ontem o mundo se iluminou em grandeza; pela primeira vez, a professora de spinning fez-me o sinal de polegar levantado, do outro lado na sala. E hoje, nem acreditei na minha felicidade: ela fez-me o sinal outra vez! Quererá isto dizer que a minha prática de spinning se está a tornar “fixe”?!
Quando tudo correr mal, não me vou suicidar: vou fazer spinning. Eis alguma coisa em que, pelo menos, sou devidamente apreciada. 

domingo, 7 de abril de 2013

Homofobia ao contrário


Nas discussões sobre identidade sexual, ouvem-se, comummente, todo o tipo de aberrações, já se sabe. Os comentários homofóbicos são, infelizmente, quase sempre os mesmos e muito pouco originais: há aquele que “não se importa que os outros façam escolhas diferentes das dele, mas desde que se escondam, para não o incomodar muito”, os que usam expressões como “contra-natura” (entenda-se, por “natura”, a construída por eles, não a dos animais certamente), ou ainda o “já agora, por que não legalizar também a poligamia?”.
Mas há um tipo que acho ainda mais interessante. É aquele que elogia exacerbadamente “os homossexuais”, como se tivesse à partida algo a temer e colocando-os todos na mesma categoria.

“Os homossexuais têm muito mais gosto do que os outros”
“Os homossexuais são muito mais sensíveis, no bom sentido, claro”
“Lá no meu trabalho, conheço um e gosto imenso dele”
“Tenho uma amiga que tem montes de amigos assim”
“Tenho uma prima lésbica, que é super inteligente, tirou um mestrado e tudo”
Isto, claro, denota uma certa atitude trabalhada por detrás. Uma falta de à-vontade enorme, seguida de um impulso para a esconder, por desejo de integração social. Que, segundo a minha opinião, se deve reflectir num pensamento qualquer do género:
“Ok, a mim mete-me imensa impressão essa coisa de haverem pessoas que não se regem pelo ideal de família que me incutiu a sociedade e que sou demasiado fechado para questionar, mas, como me fica mal exprimi-lo e além disso, quero que me considerem um porreiro e tal, vou fingir que estou mesmo, mesmo na boa com o assunto”. Ora, nota-se perfeitamente que essa pessoa não está nada, nada na boa com o assunto.
Quem diz estas coisas, para mim, encontra-se um bocadinho ao nível daqueles que acham que uma determinada cor de pele ou nacionalidade determina o quão afável a pessoa em questão é.

Já era tempo de deixar de dividir as pessoas por categorias e grupos. Por esta altura, já deveria ser óbvio o facto de cada individuo ter a sua personalidade, independentemente de como exprime a sua sexualidade. Noto um certo desconforto, agora que estas últimas questões são trazidas para a praça pública com frequência. Espero que, um dia, a identidade sexual deixe de ser tema de controvérsia. Acho que é uma questão de tempo, mas até lá ter-se-á muitos comentários interessantes para ouvir. 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Benfica em Poesia

É já no próximo domingo, pelas 16h30, a cerimónia de entrega do prémio do concurso Benfica em Poesia, do qual fui júri.
No Auditório Carlos Paredes - Junta de Freguesia de Benfica.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Pensamentos

"Não há nada mais vexatório do que ser, por exemplo, rico, de boas famílias, de aspecto atraente, razoavelmente instruído, nada tolo, bom até; e não obstante, não ter qualquer talento, nenhuma característica pessoal ou até singularidade, não pensar nada por si; enfim, ser positivamente "como toda a gente"."
                                                                                                     Fiodor Dostoievski - O Idiota