sexta-feira, 30 de novembro de 2012
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Perca o juízo em quatro semanas
Fazer dieta é, regra geral, positivo. Além de nos libertar
do quilos a mais, purga o organismo e faz-nos tomar consciência do estilo de vida
pouco saudável que andávamos a praticar. Tudo isto é muito bonito, mas há uma
condição essencial a não esquecer: quando nos queremos lançar nesta aventura,
também temos de nos mudar para uma ilha deserta, quinta ou gruta no meio do
mato.
Com efeito, é impossível fazê-lo com os outros ao lado. A partir de agora, ou nos fechamos em casa, ou a nossa vida social vai ser um inferno, povoado por todo o tipo de opinadores. Claro que é querido que se preocupem connosco e/ou achem que já estamos em suficiente boa forma. Mas há quem vá longe de mais. Aqui estão, segundo a minha perspectiva, algumas das categorias mais comuns nesse aspecto:
Com efeito, é impossível fazê-lo com os outros ao lado. A partir de agora, ou nos fechamos em casa, ou a nossa vida social vai ser um inferno, povoado por todo o tipo de opinadores. Claro que é querido que se preocupem connosco e/ou achem que já estamos em suficiente boa forma. Mas há quem vá longe de mais. Aqui estão, segundo a minha perspectiva, algumas das categorias mais comuns nesse aspecto:
O nutricionista-amador: há sempre alguém que de repente sabe
tudo sobre nutrição e que, não só acha a nossa dieta parva, como insiste em que
sigamos o seu método. “Tens de comer uma beterraba assada por dia enquanto
fazes o pino e cantas o hino nacional” – garante, e não descansa enquanto não
prometemos experimentar a sua técnica.
O preocupado: mas tu não precisas! – exclama, avaliando-nos
de alto a baixo, ao mesmo tempo que morde os lábios e abana a cabeça. Inútil
explicar que o objectivo é apenas recuperar a figura com a qual nos sentíamos
confortáveis. Ele não vai acreditar e vai estar o tempo todo a tentar fazer com
que nos “descuidemos” ao declarar as verdadeiras razões deste regime: um
desgosto, uma anorexia, uma depressão profunda.
O desconfiado: não comeste? – pergunta, com ar de pânico,
depois de chafurdar no seu prato de carbonara com queijo e bacon extra. Este é
aquele que vai ainda mais longe e acha que o nosso plano é mesmo,
declaradamente, morrer à fome. Quando dizemos que já comemos, mas mais discretamente, a pessoa fica a contemplar o mais
profundo dos nossos olhos, como que para detectar neles o brilho subnutrido da
suposta mentira.
O tentador-provocador: aquele que se “esquece” e de cinco em
cinco minutos nos propõe cervejas, vinho, doces e bolos. Este é o pior, porque
nos obriga a fazer constantemente cara de seca ou sorrisos forçados, para
recusar coisas. Claro que, com a neura com a qual ficámos depois de todos os
comentários supra-referidos, duvidamos da inocência destas propostas.
A alternativa, claro, é mentir. Inventar que não se come
doces porque eles caem mal a esta hora, não se quer batatas simplesmente porque
não se suporta os fritos (o quê, não sabias isso? Pois, conheces-me tão mal...)
e que não se está a beber por causa do Ramadão. Conheço quem invente esse tipo
de desculpas e parece-me, francamente, estúpido. Mas também é, pelos vistos, a
única opção viável.
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Ema, ou o começo de tudo
Lembro-me de um professor corcunda. Não era muito velho,
usava óculos de aros prateados e diziam que era bicha (a homofobia era bastante
aceitável entre os miúdos naquela época). Não nos deixava jogar ao stop nas
aulas e tinha uma maneira muito peculiar de imitar a Lady McBeth – give me ze
zaggersss, dizia ele, fingindo agarrar um par de punhais no meio da noite
trovejante.
Foi, também, a primeira vez que li Madame Bovary.
Não retive nada. Sim, havia vaga noção de que era sobre uma
mulher que traía o marido, mas não será esse o caso com a maior parte dos
romances franceses do meio de século xix para baixo? Na altura, parecia. Interessavam-me
sinceramente mais os escaravelhos gigantes a sair envergonhados de baixo de
camas, jogadores de xadrez compulsivos e outras coisas que os franceses tanto
gostavam de nos fazer ler, mas que não eram francesas. Assim, com Kafka e Zweig
mesmo ali ao lado, Flaubert ficou apenas perdido no meio dos Moliére, Apolinaire
e outros tantos também acabados em "érre".
Treze anos depois, considero o meu eu adolescente com um
certo desprezo. O critico literário James Wood diz-nos que o escritor deve
agradecer a Flaubert do mesmo modo que o poeta agradece à primavera: tudo
acontece de novo com ele. De facto, assim o é. Ler Madame Bovary deve equivaler
a dois anos de vida literária. Já que, mais de um século e meio depois, ainda
há autores que lhe são influenciados pelo estilo. Acabei de ler o livro pela
segunda vez, com a noção de que grande parte daquilo que vemos em literatura
moderna vem daqui. Reler os clássicos permite-nos, de facto, entender tudo muito
mais facilmente.
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Mosaico - Magazine Cultural
Aqui está o link para a minha entrevista no Mosaico, magazine cultural da Radio Clube de Penafiel.
Programa de 9.11.
http://www.radioclube-penafiel.pt/_mosaico__magazine_cultural_7
Programa de 9.11.
http://www.radioclube-penafiel.pt/_mosaico__magazine_cultural_7
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
A mulher na casa dos 30 que ainda está solteira
Agora, de cada vez que vou a um encontro de família, os mais velhos dirigem-me um esgar
de pena comprometida, por ter acabado com uma relação duradoura, pormenor imperdoável:
aos 28 anos. É que, para as gerações que me antecedem, isso torna-me parte de
uma categoria da sociedade que corre sérios e irreversíveis riscos. Eu sou “a
mulher na casa dos 30 que ainda está solteira”.
Bem no-lo tentaram impingir durante toda a nossa juventude:
filmes, livros, séries, sermões de moral e que sei eu mais. Que, normalmente,
eram ilustrados pela história de uma qualquer pobre e desesperada donzela que,
apesar de ser bonita (e possuir outras qualidades aprovadas segundo o padrão de
mulher socialmente aceitável, tais como: ser inteligente mas não demasiado, ser
engraçada sem ser tonta, esse tipo de coisas), ainda não se tinha casado mas já
se estava a aproximar perigosamente da idade limite para tal. O que era terrível,
claro.
No entanto, depois de uma série de peripécias, ela lá
encontrava um gajo qualquer e tudo acabava bem. Lembramo-nos bem delas: as
Bridget Jones, as Carrie Bradshaws e as Jennifer Anistons da vida. A lição era sempre a mesma: todas podiam
ter as suas vidinhas e roupinhas e tal, mas o objectivo último era sempre o de
encontrar um homem, condição sem a qual a eterna ameaça da infelicidade pairaria.
O que acontece é que, chegando à idade em questão percebemos
que isso tudo é uma tanga enorme.
Estou, agora, feliz e com perspectivas de futuro ainda
melhores. Vivo sozinha e ninguém me chateia, saio com amigos todos os fins de
semana se me apetecer, não tenho crianças a gritarem-me aos ouvidos, estou com
quem quero, não tenho de fingir que acho giros os bebés das mulheres dos amigos
dos outros e não tenho a mãe de ninguém a tentar ensinar-me a cozinhar empadão de brócolos
em frente à novela ao domingo à tarde.
E se um dia me apetecer formar família, assim o farei. Se
não, não. Fascinante é que isso não constitui para mim nenhuma espécie de questão
existencial. Afinal, chegando a esta idade e vivendo sozinha, descubro que não
me desintegrei nem explodi nem me aconteceu nada de terrível: antes pelo
contrário.
Olho à minha volta e verifico que não sou caso raro. Muitas
das mulheres que conheço na minha situação estão tão ou mais felizes do que as
outras.
É o máximo ser-se uma mulher na casa dos 30 que ainda está
solteira. Porque podemos viver todas as aventuras que dantes só eram permitidas
aos homens na casa dos 30 que ainda estavam solteiros. Afinal, o mundo e a
sociedade sempre têm tendência para avançar. Talvez um dia as nossas tias e
avós percebam isso e fiquem contentes por nós.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
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