Quero exprimir aqui a minha super-controversa opinião
sobre um assunto. Que é (a sério, vai parecer muito revolucionário, porque
embora seja um tema mais do que batido, ainda não vi ninguém atrever-se a dizer
isto, mas...). Ok, estão preparados?
Uff...
Então, aqui vai:
Estou-me completamente a cagar para o Lorenzo Carvalho.
Pronto, já o disse.
E estou neste momento à espera que o menino Jesus desça à
Terra para me repreender a falta de sensibilidade e compaixão. Mas não quero
mesmo nada, mas mesmo nada, saber dele. E intriga-me como é que isto pode
sequer ser tema de discussão, muito menos de uma discussão tão acesa (sim, e eu
sei, estou, eu própria, a discutir o tema agora, o que me enerva imenso). Mas,
o que aconteceu, de repente, pessoas? Acordaram para a vida do país e é isto
que se lembram de comentar? Há muito tempo que não tinha visto alguém ser
defendido de uma maneira tão aguerrida. Nem quando a Sónia do Big Brother
levou um pontapé do Marco. Nem aí. E foi o primeiro dos Big Brothers.
Eu percebo que tenha sido uma entrevista parva. Eu percebo
que era apenas um miúdo que não fez mal a ninguém. Até percebo a reacção à
injustiça de a jornalista em questão nunca se ter lembrado de perguntar a um
politico, por exemplo, quanto valia o seu relógio. Mas a verdade é que também nunca
ninguém antes se tinha lembrado de acusar a jornalista de não ter perguntado a
um politico quanto valia o seu relógio, de qualquer maneira. Não foi hoje que a
classe politica dirigente do nosso pais começou a fazer negócios manhosos, com
dinheiros públicos. Não foi hoje que a injustiça social em Portugal começou. E não
foi hoje que os políticos começaram a comprar relógios com o nosso dinheiro.
Mas pelos vistos, foi hoje que os portugueses um pouco por
toda a parte se lembraram de se insurgir contra... qualquer coisa.
E quanto a mim, esse qualquer coisa foi bastante ao
calhas.
Estou-me completamente a cagar para o Lorenzo Carvalho. Para mim, se a Judite de Sousa tivesse entrevistado o Lorenzo Carvalho, ou um pinguim, era o mesmo. É indiferente.
E o que me revolta é que sendo tão apáticos, no geral, e tendo tanto para debater no nosso país actualmente, resolvamos acordar de repente para isto.
Ok, não foi um momento televisivo muito bom. Mas isso não
torna o mesmo interessante. É apenas um miúdo de tatuagens com dinheiro para
quem alguém foi um bocadinho mais idiota. Mas, mais uma vez, que eu saiba, há
entrevistados a serem tratados de maneiras idiotas todos os dias, e nunca
ninguém se lembrou de fazer uma insurreição disso.
A Judite de Sousa subestimou o povo português. Viu um puto
rico, novo e quiçá um pouco ingénuo e decidiu tentar brilhar à sua custa. Do
que ela se esqueceu é que, para nós, melhor do que uma boa injustiça social é a
possibilidade de achincalhar uma jornalista bem sucedida, com pouco poder de cálculo e demasiado tempo de antena livre. E depois o fenómeno espalha-se em massa, porque já se
sabe: se um grita, mesmo que o assunto seja irrelevante, os outros também têm
de gritar. E assim, todos perdemos tempo com um assunto que não interessa ao
menino Jesus, mas que é fixe porque mete carros, malta estrangeira e a Pamela
Anderson.
Eis o povo português. Esfomeados? Sim. Mas bimbos a valer
quando é preciso? Sobretudo.