Pode parecer cliché ir a correr comprar o mais recente
prémio Nobel (se bem que este me foi oferecido, a pedido, no Natal) mas a
verdade é que também se tratou de uma excelente desculpa para me aventurar na,
até agora para mim desconhecida, literatura chinesa.
Mo Yan, dizem, sofreu na realidade muitas influências
ocidentais, tais como a de Faulkener ou Garcia Marquéz – embora ele próprio
diga que não as assimilou directamente, a verdade é que constituíram parte da
sua escola literária. Trata-se portanto, presumo, de uma entrada soft na
literatura oriental.
Esta é a saga da família Shangguan, protagonizada na
primeira pessoa por Jintong, o filho mais novo de uma família de oito irmãs.
Mimado e aguardadíssimo, acaba por se tornar num inútil que ainda na idade
adulta ainda gosta de beber leite das mamas das mulheres com quem se envolve
(podemos, na minha opinião, ver aqui uma certa vertente metafórica típica do
Realismo Mágico, que aparece em vários episódios da narrativa). Permite uma visão
alargada da História do pais, retratando com enorme vivacidade episódios como a
invasão japonesa e a Revolução Cultural, a partir da região de Gaomi, um meio
rural e extremamente pobre.
A mãe, Shangguan Lu, que permanece viva através das
desgraças, guerras e maleitas físicas; faz lembrar uma Úrsula Buendia, a mulher
que tudo aguenta e por quem tudo passa. A mulher, de facto, é a grande pedra
basilar do livro, que acaba por lhe ser uma espécie de homenagem. Um romance
que demonstra, parafraseando Howard Goldblatt, o falhando de um sistema
patriarcal; em que as mulheres são estruturantes na acção, enquanto os homens na
sua maior parte não passam de atracções circenses que tornam a narrativa mais
colorida.
Marcado por um erotismo violento e intrusivo, com imagens
inusitadas, este é um livro que enjoa e faz sorrir. Portanto, nem sempre o
facto de um escritor estar na moda é mau sinal.