sábado, 24 de setembro de 2011

Neurose

- Para que lado se move a bailarina?
- Concorda com impostos para os ricos: sim/não
- Venha perder peso com as estrelas de cinema
- Um hamster irritantíssimo às voltas numa roda

Que têm estas coisas todas em comum? Para os que não usam regularmente o Hotmail, provavelmente nada.
Para os outros, porém, esta situação é já demasiado familiar, e seguramente não contribui para o estado de espírito zen de uma pessoa normal.



É impossível, hoje em dia, abrir a caixa de correio sem me deparar com estes banners multicoloridos, que piscam, guincham, e giram sem parar, no visor; perturbando completamente a minha capacidade de concentração e o desenvolvimento da minha sanidade mental. São eles baratas, ratos, bailarinas, e que sei eu mais deploráveis figurinhas; impossivelmente energéticas e totalmente estúpidas.
E pergunto-me: será que sempre foi assim, e eu só agora me tornei sensível a este tipo de publicidades cibernéticas? Será que algo mudou na minha personalidade, que me fez envelhecer por dentro e me tornou particularmente irritável, ao ponto de dedicar um post inteiro a isto? Mas eu já uso o Hotmail há anos! E nunca me lembro de ter experienciado um sentimento tão intenso de raiva face a uma coisa destas. Aliás, não me lembro de qual foi a última vez em que experienciei um sentimento de raiva tão forte, de todo, em relação a qualquer coisa.
Como se não bastasse, se carregarmos muitas vezes na cruzinha que nos permite eliminar o anúncio, aparece, regra geral, outro anúncio. Mas desta vez da própria Microsoft, a informar-nos que é possível remover os banners graças à instalação de um programa qualquer, pago. Gente esperta.
Mortifica-me pensar que cada vez que me distraio e, por engano, carrego no dito banner colorido, estou a redireccionar-me para as páginas correspondentes e, por consequência, a dar dinheiro ao Hotmail. Estou a ficar muito deprimida com a situação.
Gostava de lançar aqui um apelo aos responsáveis: sei que colocam publicidades deste tipo por uma questão de financiamento; sim, eu sei, a vida está cara para todos. O simples anúncio de texto discreto com como forma de rentabilidade perde a sua força, contra a concorrência dos Gmails, Yahoo mails e afins. Mas os bonecos coloridos e piscantes não são a solução.
Arriscam-se a perder mais dinheiro com clientes que fecham as suas contas (eu, uma potencial candidata) do que com os milhões de cliques acidentais nos bonequinhos.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

“De qualquer maneira, não há democracia em país nenhum”

Já todos ouvimos este tipo de argumento em algum lado. É a última instância do debate contra o apoio internacional da revolta nas oligarquias e ditaduras do mundo árabe. O que se passou na Líbia foi o exemplo mais recente.
Aquilo que foram manifestações relativamente pacíficas em países como a Tunísia ou Egipto, no desembocar das quais os seus lideres aceitaram a derrota com (relativa) facilidade; não aconteceu na Líbia. Aí, vimos um louco disparar desalmadamente sobre os civis desarmados, achando que, desta vez também, obteria o fechar de olhos da comunidade internacional.
Ora é, obviamente, uma hipocrisia ver aqueles que tinham pactuado com Khadafi, sedentos do seu petróleo, agora condená-lo tão veementemente, apenas pela mesma razão – vide a França. Mas será que por isso devia deixar de haver intervenção? Olhemos para nós. Embora em situações muito diferentes, há sempre paralelismos que se podem fazer. Caso o 25 de Abril tivesse sido conseguido graças a interesses de fora, isso tê-lo-ia, automaticamente, deslegitimado? É uma pergunta difícil, mas a resposta parece-me ser, apesar de tudo, não. Aliás porque, quer queiramos quer não, todas as revoluções têm o apoio de interesses que nada têm que ver com os motivos oficiais das mesmas. É a vida.

No terreno, estamos a falar de pessoas. Eram pessoas em desvantagem considerável, que estavam a ser massivamente reprimidas e assassinadas. A única coisa que queriam eram viver num pais onde a sua voz fosse ouvida, e onde pudessem ser eles a escolher o seu próprio regime. Podem dizer o que quiserem sobre os motivos, mas a verdade é que a NATO os ajudou, pelo menos a vislumbrar a hipótese de um futuro diferente e melhor. A visão maniqueísta do mundo segundo a qual “os maus” (os americanos, e quem estiver com eles) estão a tentar lixar “os bons” (quem quer se seja que esteja contra os americanos) parece-me ultrapassada. Nada é assim tão simples.
Mas é aqui que entra o argumento dos iluminados, segundo os quais “de qualquer maneira, não há democracia em país nenhum”. “E nós também não vivemos numa democracia, ou achas que sim? – dizem eles – Não, isto está tudo controlado, somos todos uns fantoches”. Que não vivemos numa democracia completa, eu aceito; que somos muitas vezes controlados por organismos que na verdade não elegemos, também. Mas esquecem-se de que os líbios estavam numa situação muito pior do que a nossa, vivendo em situações muito mais desigualitárias; e argumentar que eles não têm direito a querer uma democracia só porque “de qualquer maneira, não há democracia em lado nenhum” é de um egoísmo tremendo. O facto de acharem que a democracia é uma farsa – como pode por vezes ser – não impede que não se possa lutar por ela. Se nós lutámos, não há diferença nenhuma em que os líbios também o façam. Ou serão os árabes vitimas de uma terrível e misteriosa especificidade (genética? Só faltava) que os impede de tentar ter o que nós temos? Não, porque nós não somos os únicos que têm direito a querer um futuro melhor.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Momento copy paste

De Vim Porque me Pagavam, de Golgona Anghel, retenho muita coisa. Um livro de poesia, no mínimo, espectacular.
Gostava de escolher um poema, mas como não me consigo decidir, deixo aqui a sua nota prévia (ou citação de abertura, como preferirem) da autoria de Fabián Casas.

"Esperando que la aspirina empiece a trabajar; (...)
hojeo revistas estúpidas, escucho discos viejos
me pregunto en que momento
los dinosaurios sintieron
que algo andaba mal."