Quando se é aspirante a escritor, sobretudo antes de se ter
algum livro publicado, costumam surgir vários problemas por parte de outrem:
ridicularização, menosprezo, condescendência, são alguns exemplos. Regra geral,
as pessoas tendem a não levar os sonhos dos outros a sério, sobretudo quando estes
são pouco convencionais. Há, no entanto, uma categoria que verifico tratar-se
de uma praga em muitos meios sociais e que me
tem vindo a perseguir até agora.
O que é um pseudo-intelectual? Normalmente, uma pessoa que
gostaria de escrever mas não escreve, ou gostaria de pintar mas não pinta, etc. Contudo, age como se percebesse muito do assunto, tentando rebaixar os outros, para
se defender da enorme mágoa que é ser-se um frustrado total.
Manifestações de pseudo-intelectualismo são, por exemplo, afirmações como:
- “Sim, dizem-me que eu daria um excelente
escritor, mas não o posso ser, devido aos inúmeros compromissos
super-importantes que assumi e que me impedem de me dedicar a assuntos tão comezinhos neste momento.” (Nós não tínhamos perguntado nada);
ou
- “O quê, não conheces o (introduzir o nome de um
escritor obscuro, sobre o qual nunca ninguém tenha ouvido falar, que soe a algo do
género “Wilks Andresbleiben” ou “Schuffen Karmalovski”)?” Seguida de um
esgar de repugna e profundo espanto. Supostamente, isto quererá dizer que,
segundo a opinião deles, o interlocutor nem sequer deveria existir, muito menos
escrever.
Quem geralmente lida com estas situações são, mais ou menos por
esta ordem:
- autores aspirantes, ainda não publicados;
- autores não consagrados;
- mulheres autoras (muitos partem do princípio que estas
últimas só são capazes de literatura light e/ou balelas poéticas
pseudo-românticas sem interesse literário, porque se trata de um ser
“diferente” – eufemismo para “inferior”);
- jovens autores.
No fundo, qualquer pessoa que se encontre numa posição de
relativa fragilidade e portanto propícia a ataques daqueles que precisem de
chatear os outros para se sentirem bem consigo mesmos.
O contra-ataque, na minha opinião, é responder uma
barbaridade qualquer igualmente disparatada, do género: “Ai eu cá para escrever
preciso de praticar sexo tântrico durante pelo menos quatro horas, caso
contrário, a inspiração não me vem. É muito exaustivo.” Ou ainda, retorquir com
mais do mesmo: “Olha que eu agora ando a ler um autor muito bom, aliás, há quem
lhe chame o grande mestre da nossa geração, chama-se (inventar um nome
completamente estapafúrdio como “Blunks Trotelieu” ou “Jameson Bronkradunt”),
o quê, não conheces? A sério? Oh, que horror...”
Garantidamente, a pessoa vai andar o dia a seguir em fúria a
gastar um tempo louco, procurando o dito nome pelas livrarias e pela internet. Assim,
se não o impedimos de prosseguir no seu método, pelo menos, chateámo-lo um
pouco.