segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Portugal… fala-me sobre isso.

Uma das perguntas mais frequentes, feita a quem viaja, é a inevitável: “de onde vens?” São os habitantes locais das terras por onde se passa que mais exprimem a sua curiosidade em relação a tal. O português fora da Europa, contrariamente à geral maioria, tem face a esta questão uns bons quinze minutos de explicações a dar. Com efeito, salvo algumas referências futebolísticas, a maioria dos interlocutores tem uma de duas reacções à nacionalidade lusitana. Ou fica a olhar para nós inexpressivamente, por breves segundos, até mudar de assunto (significa que não sabe do que é que se trata, e tem vergonha de o assumir). Ou espera que desenvolvamos o tema, dizendo por exemplo onde fica esse país de nome tão estranho, que língua se fala lá, e se por acaso faz muito frio.
Ora, isto é geralmente um grande choque para o português, que esperava que o seu lugar na União Europeia lhe desse finalmente alguma notoriedade entre os grandes. Vivemos, no nosso quotidiano, uma triste ilusão. Sentados em frente à televisão, fazendo zapping entre os telejornais das oito, e vendo Angela Merkel dar palmadinhas nas costas a José Sócrates, julgaríamos estar no centro dos acontecimentos, e gozar de um valor estratégico inigualável, a nível internacional. A realidade, porém, é bem diferente. No fundo, dizer a alguém que se é Português, no Mundo, é mais ou menos o mesmo do que dizer que se é do Butão, ou do Gabão: ninguém faz a mínima ideia do que estamos a falar, ou se faz, apenas lhe conhece o nome.
No entanto, e apesar das vicissitudes, é ao viajar que cresce o amor pelo pequeno rectângulo. Porque contrariamente a outros europeus, como franceses ou alemães, que têm uma relação relativamente pacifica com o seu próprio país; o português tem uma extremamente conturbada com o seu. É apenas ao falar de Portugal, que se dá conta de quantas coisas boas lá tem. E é assim que tem verdadeiramente pena daqueles que acham que somos uma ilha a Sul de Espanha, ou mesmo um qualquer estado amazónico no Brasil. Portugal visto de fora parece, de facto, sensivelmente espectacular. Tem praia, bom tempo, lugares bonitos, preços acessíveis... No meio disto tudo, há uma grande tendência para esquecer a crise, o desemprego, e um salário mínimo cujo valor tende para o africano. Muito cedo, deste modo, uma conversa sobre de onde somos se transforma num apanágio nacionalista. Fala-se do fado, garantindo ser a música mais bonita do mundo. Faz-nos muita falta a praia, mesmo que neste momento seja Inverno e esteja um frio inconcebível. Esquece-se de até que ponto se estava deprimido com a rotina, como eventualmente se embirrava com a família, ou se estava completamente farto dos amigos e colegas. Pensa-se que os políticos, afinal, não são assim tau maus. Tem-se muitas saudades da comida portuguesa, e é frequente largar-se frases do género: “Ah, agora umas pataniscas e um caldo verde é que era”; mesmo que na vida real, em casa, se comesse todos os dias massa com atum ou Mc Donalds.
No fundo, a melhor maneira de amar Portugal é sair dele por uns tempos.


E quando finalmente se encontra alguém que torça por nós, a alegria é imensa. Mesmo que a ortografia não seja a melhor.