quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Elefantes na sala e quem gosta de os ter


Eu era daquelas adolescentes que, de cada vez que se chateava com alguém querido, escrevia uma longa carta. Nunca fui muito boa no debate verbal, por outro lado, sentia necessidade de resolver, explicar e esclarecer as situações. 
Presumo que haja muita gente que, enquanto novo, sinta a necessidade de exprimir as suas opiniões alto e bom som. Depois, à medida que vamos crescendo, acontece uma coisa muito engraçada que é o facto de os outros à nossa volta – sobretudo mais velhos – nos começarem a dizer coisas como “caga nisso, não vale a pena” ou “a pessoa há-de perceber sozinha”. Isto é, claro está, uma maneira simpática de nos dizerem para não criarmos muita confusão e não nos expormos demasiado, porque fica mal e também aborrece os outros.

Eu, do meu lado, nunca fui muito boa a cagar nisso. Continuei com uma tentação terrível para dizer o que penso, o que acaba por chocar muitas pessoas. Deparei-me, ao longo dos anos, com bastantes reacções de amigos que, temendo o confronto, reagiam à minha honestidade com cara de pasmo e preocupação, como quem pergunta “a sério, temos mesmo de falar sobre o que aconteceu?” ou  de condescendência (“lá está a Teresa, como sempre, a tentar falar sobre o que aconteceu...”).
Isso irrita-me imenso. A uma certa altura, achei que talvez fosse eu quem estava mal, pensando que quem sabe fosse próprio começarmos a esquecer certas coisas mais desagradáveis de propósito, porque fingir que não se passa nada é a maneira certa de os adultos encararem a vida. Mas não me parece que seja.

Sinceramente, acho que à medida que vamos crescendo, ou nos tornamos daquelas pessoas que nunca dizem nada a ninguém sobre o que as incomoda (e simplesmente agem em concordância e vivem nunca espécie de estado de negação permanente) ou nos estamos positivamente nas tintas para as eventuais susceptibilidades que possam ferir e somos honestos – na medida do decente para não ofender ninguém – porque é a única maneira de evoluir.
Penso que esse tipo de atitude é a que mais a mim se adequa. Poupa tempo, dá-me paz e sobretudo faz-me sentir leve. Odeio elefantes na sala. Por mim, atiro-os todos pela janela, ou pelo autoclismo, se lá couberem. 

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Toma lá, vai buscar

"Vejo a minha cara ao espelho para saber quem sou, para saber como me portarei dentro de poucas horas, quando me defrontar com o fim. A minha carne pode ter medo; eu, não."

                                                                     Jorge Luis Borges - Deutsches Requiem

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O fascinante mundo da pornografia feminina



Num destes dias, estava a jantar com uns amigos, entre os quais mulheres que se queixavam do facto da pornografia encontrada na internet ser desenhada exclusivamente para homens.
Com efeito, não conheço muitas que achem excitantes certas práticas que não me cabe aqui especificar, mas que, de facto, não correspondem em nada à realidade biológica reprodutiva humana. Essas actrizes costumam interpretar, portanto, actos que os homens gostariam eventualmente de ver as suas parceiras fazer, mas que no fundo são tão irreais como qualquer ficção científica sexual.

Na mesma conversa, um dos intervenientes revelou-me algo que eu na altura achei interessante (já me disseram que deveria saber isto há mais tempo, mas nunca é tarde de mais para descobrir este mundo e o outro): há, de facto, na maioria dos sites, uma categoria chamada “pornografia feminina”, dedicada às necessidades e desejos dos membros do mesmo género. Fui ver e eis que encontrei o vídeo em baixo. Não fiquem já super-entusiasmados, antes de carregarem no link, há alguns comentários que gostaria de fazer.

Primeira cena: temos um casal que entra naquilo que se pretende ser um hotel de cinco estrelas. A mulher – muito impressionável – está doida de contentamento com a suposta beleza das instalações. Uma das exclamações, assaz efusiva, sendo sobre a mesa de mogno (?). Enfim. De seguida, a nossa donzela fica aflita porque se dá conta de que talvez o quarto seja demasiado caro, ao que o cavalheiro, com um tom hiper-meloso e nojento, que a bidogaça torna ainda mais caricato, responde:
- Faz-te feliz? Se tu te sentes feliz, é porque eu também me sinto feliz.
Segue-se cena de sexo em consequência, deduzo eu, do maravilhoso comentário do nosso Don Juan.

Ora, teria vários apontamentos a fazer sobre este vídeo, o principal sendo o seguinte: isto não é “pornografia para mulheres”.
É, isso sim, “pornografia para homens que acham que estão a fazer pornografia para mulheres”. Pelos vistos, alguns ainda pensam que nos excita imenso gastarem dinheiro à parva, porque toda a gente sabe que tipo de gueixas superficiais nós somos. Mas eu não conheço mulheres que queiram saltar para a cama quando o parceiro lhes paga coisas. Conheço algo muito diferente, que é mulheres que se sentem obrigadas a saltar para a cama na mesma situação. Normalmente, são as mesmas que fingem orgasmos, casam por dinheiro e se fazem de burrinhas para os respectivos não se sentirem diminuídos. No fundo, se calhar, isto ilustra bem a base de alguns malentendidos entre géneros.
Bem-vindos ao fascinante mundo da “pornografia feminina”, a pornografia que os homens acham que as mulheres querem ver. Quanto ao vídeo em questão, eu diria que, se nunca mais querem conseguir gostar de sexo na vida, este é o ideal:

http://www.pornhub.com/view_video.php?viewkey=696355060

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Sábado, na Biblioteca Municipal de Sines


Aceitando o repto da Biblioteca Municipal de Sines, cada uma das autoras falará sobre a sua obra e apresentará a obra da sua congénere, numa sessão aberta a todos.

Biblioteca | 23 de fevereiro | 17h00 | Entrada livre | Para público em geral

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sábado, em Carnaxide


Prova de Livros
Oficina de Escrita Criativa Um Passeio pela Escrita, por Teresa Lopes Vieira
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0eYDDBX_pY7L-3H-OK17I930x97EKwyhulVcEO60XQyc9u3X_FHthgrh8rQCgX80uxC4zhU85BVq0sRI1UrQSVapc056CVSJZtyoQWmglP80HDtKRuCsy-YPHvb3kyC_mJ3vzmbN_ECk/s200/TeresaLopesVieira.jpg
16.Fevereiro - 14h30
Biblioteca Municipal de Carnaxide
Teresa Lopes Vieira na sua oficina de escrita criativa, realiza uma viagem ao mundo da escrita que ensina “o que é criar e como fazê-lo através das palavras”, com exercícios para desenferrujar as ideias e a criatividade.
No final, a autora irá apresentar os seus livros e conversar com o público sobre as obras e as viagens que as inspiram. Equador, Colômbia e Egipto são alguns dos cenários das suas histórias.

Público-alvo: Adultos e Jovens (a partir dos 16 anos)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A conversa da crise


Hão-de reparar que, hoje em dia, quem mais se refere queixosamente ao vago termo de “crise” é quem menos faz para que as coisas se resolvam. Não que o cidadão comum, no geral, possa fazer muito, é verdade. Quem não tem mais influência ou disponibilidade pode ir às manifs, derrubar umas cancelas, mandar uns petardos e tal. Estou-me, no entanto, a referir às pessoas que rigorosamente nada fazem, simplesmente passando o dia de cu sentado em casa, mas que mesmo assim não se calam com chavões como “isto está mesmo mal” – que já ninguém suporta.
Sim, já todos percebemos que isto está muito mal e agora? Em vez disso, poderiam apresentar soluções práticas. Que se diga mal do governo, das medidas por ele tomadas, da corrupção generalizada do nosso sistema, do sistema bipartidário que já não funciona, da perversidade dos aparelhos partidários, da falta de transparência da nossa democracia; acho óptimo. Vamos falar sobre isso. Adoro falar sobre isso. Agora para vagos queixumes sobre o “como isto está” já não tenho paciência e já não posso ouvir.
 
Devia haver uma multa para as pessoas que andam para aí a dizer “como isto está”, mas essa não seria paga em dinheiro. O cidadão seria, sim, obrigado a ler todos os jornais que lhe pudessem à frente durante uma semana (coisa, provavelmente, nova na sua vida – por alguma razão se fica por apreciações vagas e nunca chega a criticas concretas) finda a qual deveria passar duas horas a debater, com outro cidadão apanhado no mesmo ilícito, soluções práticas e medidas que gostaria de ver tomadas. Assim, sim.
Mas eu acho que essas pessoas, no fundo, gostam de ser assim. É a conversinha que temos com o senhor do café, é o debafo que se faz à vizinha, mas em relação ao qual não se sente um mínimo de ligação, sim, gostamos disso. Porque é muito mais cómodo mandar bitaites para o ar do que interessar-se, de facto, pelas coisas. Porque é muito mais cómodo ver a novela do que ler, de facto, o jornal. E quem é responsável pelo ponto a que chegámos adora a conversa do “como isto está”. Porque revela aquele fatalismo apassivante que tão bem nos caracteriza e graças ao qual nos deixamos embrutecer e manipular até agora nos termos lixado a sério. 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Ser-se profundo e emotivo não faz de nós escritores


Tendo sido formadora na área da escrita criativa há algum tempo, uma das coisas que me choca mais é  a quantidade de aspirantes a escritores que não lêem, nem gostam de ler, nem tencionam nunca fazê-lo. Digo isto sem qualquer tipo de pretensão de me achar melhor do que os outros, tenho noção de que estou em início de carreira (como é óbvio, tenho, eu também, muito para aprender, ler etc.) apenas me choca que alguém que me diga, por exemplo, que está a começar a escrever um livro, esclareça ao fim de alguns minutos de conversa que “pois mas eu não tenho tempo para ler”.
Então e tempo para escrever um livro, já tem?
Podem achar que estou a ser demasiado radical, podem dizer que há pessoas que se inscrevem em cursos de escrita simplesmente por pura diversão, sem qualquer tipo de ambições literárias de extrema exigência. Eu aceito e acho que sim, podemos fazer disto um hobbie, não há mal nenhum, antes pelo contrário. Em termos de passatempo lúdico, parece-me até bastante interessante e saudável. Não é, no entanto, o caso de muita gente que, tencionando de facto publicar alguma coisa (alguns mostrando motivações bastante aguerridas e orgulho extremo no seu trabalho) se recusa a estudar o que foi publicado anteriormente, como se pudesse simplesmente inventar o estilo, aprendendo do zero. Ora – grande novidade – isso não é possível.
Diria mesmo que é incompreensível: se eu não gosto de ler e vou produzir um texto literário, então isso não quererá dizer que eu não vou gostar sequer de me ler a mim mesmo? A menos que vá ao ponto de admitir que apenas a minha própria produção me é aceitável, negando assim todas as outras. Mas nesse caso eu não deveria partir do princípio que os outros estejam interessados no meu material, pois este é produto exclusivo do meu próprio ego e como tal, apenas me vai interessar a mim e eventualmente aos meus amigos.
Isto deveria ser uma coisa óbvia, mas importa esclarecer, só para que fique dito: nunca se consegue criar algo de novo sem aprender com os mestres, ver o que está para trás e assimilar os paradigmas. Uma das tarefas mais difíceis em literatura é ganhar visão objectiva do nosso próprio trabalho e distanciarmo-nos ao máximo do envolvimento emocional que criamos com a linguagem e com a forma. Sem nos conseguirmos situar no panorama literário, não há absolutamente maneira nenhuma de isso acontecer. 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

“Se ele fez isso, então é porque não é verdadeiramente teu amigo”


Penso que toda a gente já terá ouvido esta frase pelo menos uma vez na sua vida. O cenário é típico: alguém em quem depositámos confiança faz-nos alguma coisa de que não gostamos, vamos fazer queixinhas a outra pessoa e essa resolve debitar o seu veredicto sobre a amizade em geral, aniquilando todo e qualquer comportamento que ache menos digno, como se fosse ela mesma a moralidade e a ética encarnadas.

Surpreende-me essa capacidade de nos julgarmos uns aos outros e de nos arrogarmos a faculdade de decidir sobre as relações alheias. Uma amizade é uma coisa complexa, tenho vindo a pensar nisso nos últimos tempos e as conclusões a que chego não são, de modo algum, lineares. Conhecemos várias pessoas, ao longo da vida, que nos podem dar várias coisas diferentes. Nós próprios mudamos e criamos necessidades diversas, que se alteram por vezes no mero espaço de um dia. Não é por alguém nos fazer algo de que não gostamos que o devemos imediatamente remeter para a categoria de “conhecido”. Até porque, de qualquer maneira, muita gente nos vai fazer coisas de que não gostamos, incluindo essa pessoa que eventualmente acabou de moralizar a outra amizade.
O que é um amigo? Penso que haverá várias formas de responder a essa questão. Tem de ser alguém que gosta de nós, mas ao mesmo tempo, mesmo que não o saibamos, pode estar connosco por hábito, por solidão, por convenção, por fazer parte do mesmo grupo; essa motivação pode nunca se vir a manifestar concretamente e por muito que nos custe admitir, é mais frequente do que achamos. E o pior é que, da maior parte das vezes, uma coisa não invalida a outra.
Haverá, de facto, milhares de razões que nos ligam aos outros, não sendo nenhuma cem por cento pura. Não quero com isto desacreditar a minha fé no ser humano, apenas dizer que o que nos une nunca é a mais linear das relações nem a bondade pura e altruísta, nós não somos manuais de matemática ambulantes. Há sempre uma infinitude de pressupostos e sentimentos misturados, porque somos complicados.

Também não quero dizer que tenhamos que perdoar tudo, ou de aceitar ser tratados de qualquer maneira. Apenas acho que deveríamos começar a ser menos extremistas e sobretudo deixar de nos julgar constantemente, como se fossemos detentores da verdade absoluta no que diz respeito à relação entre dois seres humanos. Vai haver, de certeza, uma altura em que vamos fazer merda, e aí não vamos querer ouvir que “não somos verdadeiros amigos” de alguém. 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Escrever sai à rua

E foi assim o workshop que dei para a Escrever Escrever, no CCB! Uma tarde muito bem passada, misturando artes plásticas e literatura.