sábado, 30 de junho de 2012

O Gato faz uma pausa



Faz agora cerca de cinco meses que saiu o Gato Persa Social Club, que me tem proporcionado um rebuliço de encontros, apresentações e mesmo workshops um pouco por todo o pais. E aproveito estes dois meses para descansar disso tudo, até porque Julho e Agosto correspondem a um período mais calmo do ponto de vista literário.
Enfim, vou trabalhar, é claro, porque há contas para pagar. E obviamente continuar a escrever aqui. Mas também vai ser uma altura para aproveitar e pôr as leituras em dia, escrever bastante, estar com pessoas e fazer outras coisas de que gosto.
Até agora tem sido bastante divertido. Costuma achar-se, erroneamente, que a vida do escritor  consiste em apenas “mandar o livro cá para fora e esperar que aconteça”, mas o livro é apenas um começo. É preciso levá-lo às pessoas. É sempre bom porque acaba por conhecer-se gente e sítios aos quais de outro modo nunca se teria chegado. Mas às tantas importa descansar, é o que vou fazer até Setembro. 

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Silêncio

Arrancou esta semana o Festival Silêncio, com tertúlias, espectáculos, documentários e outras actividades engraçadas; em quatro espaços do centro Lisboeta.

Ontem, na Pensão Amor, assistimos a um debate sobre o tema “O poder da palavra”. O calor apertou, é certo, e a sala esteve a abarrotar, o que é bom sinal. O local é esta renovada pensão com espelhos e bancos e coisinhas por toda a parte, que parece ser um dos novos musts da noite lisboeta (tenho-me ficado pelos bares tipo Roterdão e Oslo, mas já era tempo de vir cá a cima experimentar isto). De cerveja na mão, pronta para ouvir.

Qual é a diferença, em termos de efeito, entre a palavra escrita e dita? Kalaf fala-nos de Angola, Benguela mais concretamente, onde tudo o que é impresso ainda tem muito poder.
E o que perdemos ou ganhamos nesta época de imediatismo? O facto de um momento ter mais importância pode ser um ponto de partida para que o nosso destinatário tenha de ser seduzido em menos tempo e espaço. Dá-se o exemplo de Mia Couto, que numa pequena conjugação de sílabas consegue arrasar o leitor.
Golgona Anghel, de cuja poesia gosto muito, foi uma interveniente mais tímida, que na minha opinião jogou demasiado pelo seguro e se podia ter exposto um pouco mais. Não deixou, no entanto, de marcar bons pontos, nomeadamente ao explicar que nunca leria alguém que quisesse ser visto como um herói da História.
Interessei-me por alguma ideias de Susana Sequeira, como por exemplo a referência à mudança de paradigma na publicidade, que faz com que esta agora comunique, não para as massas, mas para cada individuo; o que portanto pode colocar peso na carga poética da mensagem transmitida.
Nuno Artur Silva falou dos tempos modernos, da necessidade de sermos todos muito cool e da ironia que exprimimos em relação a nós mesmos e ao mundo como uma defesa, o que torna a palavra intermediada.

Claro que foi dito muito mais, mas enfim, foi isto que retive. No geral, pareceu-me bastante bom. Quando foi a vez dos elementos do público intervirem, senti necessidade de ir dar uma volta e ver o que se passava na Bica. Não é por mal, mas é sempre nessa altura que surgem os oradores de gaveta que aproveitam para revelar os seus “dotes oratórios”, e estava realmente demasiado calor. 

Mais sobre o Festival Silêncio aqui:
http://www.festivalsilencio.com/2012/


sábado, 23 de junho de 2012

Pensamento do dia

Soyez libres, ne vous laissez pas emmerder.

(Sejam livres, não deixem que vos f#%&* o juízo.)



Por Michel Houellebecq

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Leituras no Parque

Afinal, os parques não servem só para fazer piqueniques e ouvir o Toi.

Este é um evento cultural que irá decorrer nos dias 23 e 24 deste mês, num ambiente descontraído e próximo da natureza. Conta com a presença de autores como Teolinda Gersão, Clara Pinto Correia, Vasco Luis Curado e eu mesma (às 16h, do dia 23).


Programa completo aqui

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Oh não, vem aí o orgulho futebolístico sazonal


No momento em que o futuro da Europa esteve a ser jogado – ontem, nas eleições gregas – Portugal inteiro não resolveu fazer mais nada do que pensar nos jogos de futebol, para variar. Depois admiram-se de viver num dos países mais desigualitários da Europa. No fundo, até acabo por compreender que assim seja: e como é que nos podemos queixar, se não fazemos absolutamente nada para mudar a situação? Os representantes que temos são apenas o reflexo daquilo que somos, daquilo que produzimos: um país passivo, uma população que se deixa controlar e que enterra a cabeça como a avestruz.
Cada vez que vejo um daqueles anúncios de apoio à selecção, o meu estômago vira-se do avesso e faço um esforço enorme para me controlar. Todos têm implícito uma espécie de incitamento a um “orgulho nacional” de última hora. Ora por favor: digam-me de que é que eu tenho de me orgulhar quando o Cristiano Ronaldo marca um golo ou não? E mais: em que é que isso vai ajudar o meu país? Em nada, em zero. Se vai ajudar alguém, é apenas o próprio Ronaldo. É tudo artificial, é tudo uma fachada.
É que essa coisa do desligar a televisão para olhar o mundo à nossa volta com uma atitude crítica e envolvida gasta muita energia. Realmente, mais vale ficar em casa de cervejinha na mão e esperar que nos digam o que fazer. É mais cómodo.
Os jogos de futebol e as telenovelas, hoje em dia, são como os presos que se atirava aos leões, nas arenas: servem para manter calma a multidão embrutecida, para a impedir de pensar demasiado. Se não, já se sabe: quando estão desentretidas, as pessoas acabam por se colocar perguntas sobre o estado das coisas e começam a querer lutar por aquilo a que se chamam “direitos”. E quem manda neste pais não quer que isso aconteça.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

"Lecturing" nos supermercados


Sou completamente a favor de uma boa educação alimentar. Sobretudo quando, com o tempo já quente, se começa a vislumbrar entre os portugueses uma ou outra carne menos apelativa. No entanto, penso existirem certas grandes superfícies a levar o conceito demasiado à letra. Para aqueles que ainda não repararam, há agora, em alguns supermercados, cartõezinhos discretos situados ao lado dos produtos género frutas e hortícolas com, supostamente, informação útil sobre os mesmos. Sabia que a alface tem imensa fibra e é muito rica em potássio?
Que promover a saúde dos alimentos  se revela bom para o marketing, claro. Mas será que eu, ao comprar meio quilo de batatas, preciso mesmo de saber que estas são uma grande fonte de fósforo e vitamina A? Não.
Pelo menos, a mim, não me serve de nada. Aliás, chateia-me. Faz lembrar aqueles senhores que ficam à porta dos restaurantes do Bairro Alto, a tentar fazer-nos entrar para os respectivos estabelecimentos. Se por acaso me apetecesse entrar ali, deixou de me apetecer. “Sim, entre aqui, temos um caldo verde muito bom. Sim, sim, aqui.” Bem, a sério? Ah, então pronto, se o senhor o diz é porque deve ser verdade, já que a sua opinião é completamente imparcial e desinteressada sobre esta questão em particular?
Passa-se um pouco o mesmo com os legumes e etcéteras no supermercado: é irritante que me estejam a tentar ensinar até que ponto as minhas laranjas têm vitamina C. Se eu já estou para comprar a porcaria das laranjas, é porque em principio devo saber isso à partida.
Nisto, sou um pouco saudosista em relação ao tempo dos meus avós: uma batata era apenas uma batata e uma pêra era só uma pêra. Comia-se, porque fazia bem, mas não se ficava completamente obcecado com as propriedades antioxidantes de tudo o que nos aparecia à frente. Há, nos dias que correm, muito boa gente que se sabe aproveitar desse tipo de manias, e bem. 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Despentes (2): a violação como arma politica


Já aqui referi Virginie Despentes* e o seu ensaio sobre prostituição, violação e pornografia. Gostava de falar, desta vez, do segundo tema.

Violação igual a vergonha. Mas vergonha de quê, exactamente? De se ter sido sujeita a um dos crimes mais traumatizantes, apenas possível pela submissão do outro pela força, sexualmente. Quando alguém é assaltado ou espancado, o sentimento não é o mesmo: pode-se mencioná-lo livremente sem se ser catalogada.
Despentes, que foi violada, fala-nos da sua experiência na primeira pessoa. Defende que este tipo de crimes apenas são possíveis porque representam exactamente o tipo de relação desigual entre géneros que vivemos ainda hoje. Se não vejamos.
A literatura, religião, cinema, são apenas alguns exemplos dos veículos que formam o ideal da mulher submissa. O nosso imaginário sexual colectivo é fundado na fêmea que espera, passiva, o seu amante. A Bela Adormecida e o seu príncipe, a Rapunzel na sua torre. Nenhuma delas faz, propriamente, nada de especial. Não é por acaso: se fizesse, isso retirar-lhes-ia a sua feminilidade. Consequência disso é grande o número de mulheres que se sente excitada pela violação (homens também, suponho, só que no sentido cómodo inverso). É sintomático, não casual.
Depois de evocar, por exemplo, as imagens das mártires, Despentes escreve:  “No mundo judaico-cristão, é melhor ser-se forçada a ter relações sexuais do que tomada por puta, já no-lo fizeram entender suficientes vezes. Não existe uma predisposição feminina natural ao masoquismo, tal não vem das nossas hormonas nem do tempo das cavernas, mas sim de um determinado sistema cultural e tem implicações incómodas no exercício da própria independência.” O que faz com que muitas vezes a violação se camufle com outros nomes (“ela merecia isto e aquilo”, “só uma porca para fazer aqueloutro”) o que só acontece porque a sociedade actual nos forma para esse tipo de submissão.
Despentes reflecte, por exemplo, sobre o facto de que, quando uma mulher é violada, ninguém gosta que ela se manifeste muito sobre o assunto. Sub-repticiamente, espera-se que tenha uma vida terrível a seguir, que ganhe, por exemplo, 20 quilos, ou nunca mais consiga ter uma relação com um homem. Se não acontece nada disso, então é porque “gostou”...
Assim sendo, o número de violações oficial (no nosso pais e no mundo) está bem longe de corresponder ao número real. Muitas mulheres andam mergulhadas na vergonha e no medo, e o que é pior: encarando isso como a ordem natural das coisas, um segredo sobre o qual não fica bem falar. A vergonha cai sobre a vítima e não sobre o agressor.  
Defende-se aqui, portanto, um sistema em que à mulher não seja constantemente impingida a ideia de que, para ser aceite socialmente, deve ser frágil e dócil, tímida e resignada, não fazer muitas ondas, tudo para agradar. A igualdade de direitos e a prevenção criminal começam na educação. Um direito a reagir, a defender-se. 


* Referido aqui

domingo, 3 de junho de 2012

Gato Persa Social Club na estrada


Esta semana:

Dia 5, terça-feira, às 11h na Biblioteca Afonso Lopes Vieira, Leiria (para alunos do secundário, mas quem quiser aparecer, também pode).

Dia 7, quinta-feira, na Festcul, Barreiro.

E dia 9, sábado, na Biblioteca Municipal Pedro Fernandes Tomás, na Figueira da Foz:
- 14h30, worskshop de Escrita Criativa
- 17h, apresentação do livro Gato Persa Social Club.