domingo, 29 de abril de 2012

1º de Maio

Aí a chegar e está incrivelmente actual.
Manifestação contra a precariedade e o desaparecimento progressivo dos direitos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril, sempre

Apesar da chuva e do mau tempo, estivemos lá hoje.
Porque é importante não esquecer.

Fotografia de Eduardo Gageiro.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Eu e o homem da Zon


Não sei o que fazer. Já o oiço a bater à porta e acabei de receber uma mensagem: informamos que a sua instalação, etc, etc, etc. As outras pessoas com quem vivi sempre fizeram isto por mim. Uma certa saudade dos quartos alugados, em que tudo estava incluído nas contas. Muito mais fácil. No limite, podiam até aldrabar, eu não me importava, desde que não tivesse de ser eu a tratar das coisas práticas. Correm-me sempre mal. Agora, o homem. Fala com um sotaque brasileiro que não entendo (não devia ser ao contrário?).Não, não faço a mínima ideia de onde quero o rooter. Pois, também não sei por onde entram os cabos. Enfim.
Exasperado e percebendo que vai ter de depreender a maior parte das informações básicas sozinho, sobe e desce com as mãos cheias de fios. Brilha-lhe, eterno, um meio-sorriso condescendente. Pela cabeça, decerto alguns pensamentos misóginos. Pois é meu amigo. Mas olhe que eu nem na cozinha, nem com putos, nada disso. Em geral, muito pouco do que seja prático ou inter-relacional.
Cabos por todo o lado. Deixa as portas abertas e o vento dos sítios vazios fá-las bater. O seu carrinho estacionado em cima do passeio, com as luzes a piscar. Piscariam durante três horas, porque esta é uma instalação muito complexa, tendo em conta o destinatário.
 E eu cheia de sono, a perceber que a casa ainda tem pó. Raspando paninhos pelos móveis, ocasional e furiosamente, a fungar de alergia. A chover lá fora e com vontade de adormecer na cama nova. Mas e se o homem precisa de mim? E se o homem me entra pelo quarto adentro? Pelo amor de deus, para isso existem os pisa-papeis. Que não tenho.
 E finalmente, algo acontece. O ecrã medieval começa a piscar, o homem grita da sala, levanto-me, corro, ah, ela funciona. Ligados à civilização, sorrimos um para o outro. Obrigada, não-sei-quantos. O seu serviço foi excelente. A casa não explodiu, não desta vez. A próxima paragem será o senhor Casimiro, para arranjar o esquentador. Mas essa é fácil. Não tenho de me sentir mal por não perceber de esquentadores.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Não à burqa e ao niqab


Mais uma nota a propósito de Sarkozy e agora que a sua derrota se parece adivinhar.

O problema da burqa e do niqab em França está, infelizmente, conotado com o da xenofobia de direita, de modo a que estrangeiros=Islão=niqab, uma associação perigosa e não verdadeira. Assim sendo, chega-se a um paradoxo estúpido e muito pouco produtivo: o que, nos países árabes, é uma característica dos partidos conservadores (uso do niqab, ideia de que a mulher deve tapar o rosto) passa a ser defendido ou ignorado por alguma esquerda na Europa (tolerância em relação ao uso do mesmo).
Conclusão: rejeitando as outras politicas defendidas por Sarkozy – nomeadamente, ou sobretudo, em relação às restrições à imigração ou até mesmo a dificultação de outras práticas religiosas como a carne halal nas cantinas escolares – vejo-me obrigada a concordar com a da proibição da bruqa e do niqab, implantada há já mais de um ano pelo próprio.
É que seria interessante parar para pensar nas razões por detrás deste tipo de manifestações, antes de nos lançarmos numa troca de comentários sobre a liberdade religiosa. Que defendo, obviamente.
Só que em parte alguma o Alcorão exorta as mulheres a taparem a cara. Apenas os cabelos e os antebraços, o que, tal como na Bíblia, também pode ser discutível em termos de interpretação conjuntural. Já o fundamentalismo islâmico, esse sim, exorta; sendo o último uma interpretação distorcida e perversa do Islão, alimentada sobretudo por interesses políticos e económicos no Médio Oriente.
Estive no Egipto, onde o niqab, há tempos rareado, se tornou uma verdadeira “moda” (não estou a mentir no termo) entre as jovens que, deliberadamente, decidiram de maneira muito rápida que querem estar mais perto de Deus.
Não é difícil perceber que aquilo de que falamos é aqui é da manipulação de massas, concretizada essencialmente por xeques salafistas de determinadas mesquitas. Reforço, determinadas.
Como diz a jornalista Moha Eltahawy* – muçulmana e não usa véu – tapar o rosto de uma pessoa é uma das maiores formas de subjugação, já que as impede de usufruir do mais potente dos veículos de comunicação humana.

Ou seja, não ao desaparecimento progressivo das mulheres por detrás de véus pretos, o que de nenhuma maneira se contradiz com o exercício da liberdade religiosa.

O fundamentalismo pode e deve ser combatido, através de uma maior politica de integração das comunidades migrantes, sobretudo ao nível de lhe proporcionar as armas educacionais necessárias. Pondo isto em termos muito simples: uma mulher deve poder decidir o exercício das suas crenças baseando-se no que estuda (textos sagrados inclusive) e não no que ouve dizer a família ou um senhor lá na mesquita ao pé de onde mora.
De igual modo, um Estado deve poder proibir certas manifestações, quando entende que violam valores básicos como a laicidade e a igualdade entre géneros.

Parece-me, no entanto, que a questão do Islão em França é constantemente lançada um pouco como um isco politico, com cujos efeitos nenhum dos intervenientes se parece realmente preocupar.



* Ver mais sobre a jornalista em http://www.monaeltahawy.com/, para uma perspectiva fresca sobre o Médio Oriente, feminismo, Islão e outros assuntos de interesse global.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Mais diversão nas escolas!

Desta vez, com os alunos da Escola Secundária do Restelo.
Viagens, aventuras, fotografias de lugares mágicos, gargalhadas e claro, muito espaço para todo o tipo de perguntas. Vale tudo, desde "Quanto dinheiro tenho que juntar para ir à América do Sul?" até "Quero ser escritor, mas vejo que muitos escritores usam óculos e eu não queria... O que devo fazer?".

terça-feira, 10 de abril de 2012

Este sábado

Dia 14 de Abril, pelas 17h, vou estar na Biblioteca Municipal do Barreiro para conversar um pouco sobre o meu novo livro.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

IKEA: afinal, sempre podes suicidar-te um bocadinho mais cedo

1/ “Se não fosse o IKEA, pessoas como nós não poderiam mobilar a sua casa”
Esta é, sem qualquer dúvida, a primeira motivação existente, para penetrar no templo hórrido de terror. Como podes pensar isso? Dizem vocês. Olha, tanta coisa gira à tua volta e por tão pouco dinheiro! Se não fosse o IKEA bla bla bla bla bla bla. Pronto. Por isso, vamos ao IKEA.

2/ E agora, como é que eu saio daqui?
Deve ser problema meu, mas mal entro, não me consigo impedir de colocar essa questão. Como não sei a resposta, tenho, invariavelmente, de ir com alguém. Se não, corre tudo muito pior.
“É só seguir as setas amarelas” mas isso não é verdade. É tudo uma mentira que te tentam impingir, porque, na realidade, aquele se trata de um buraco espacio-temporal em que o mesmo cenário te passa à frente vezes e vezes sem conta até que sejas obrigados a admitir, aos berros, que amas o Big Brother*.
Enquanto isso, tens de desbravar caminho por entre as centenas de famílias felizes, que vão ter uma sanita igual à tua.

3/ Entretanto morri e não me apercebi disso
Quando, finalmente consegues comprar qualquer item, percebes que o tens de o ir buscar a uma sala que faz lembrar uma fábrica de fazer coisas muito estranhas. Onde estão os homenzinhos de amarelo? Subitamente, desapareceram todos e o protagonista desta aventura está sozinho, diante penhascos e penhascos do que parecem ser caixas de cartão com números, mas podem muito bem ser contentores cheios de kryptonite.

4/ Afinal não era assim tão barato, pois não?
Pois.
Porque custava tudo 10 euros, verificas que gastaste 200, como um parvo que se deixa enganar. Porque 10x20, surpreendentemente, =200

5/ Agora, também vais ter de comer aqui
Porque passaste 6 horas, perdido, a tentar encontrar a saída, ou a decidir que &%"# de conjunto de cadeiras é que vais levar (se são todas idênticas e/ou bastante feias), estás-te a sentir muito fraco e vais ter de engolir uma horrível pizza ou cachorro quente que “só” custam não sei quantos euros e, oh, que alegria, podes fazê-lo à boa maneira sueca.

6/ Tenho um móvel igual ao teu.
Porque compraste o móvel mais barato, ou o mais original, ou simplesmente um qualquer, (não interessa, porque de qualquer maneira) toda a gente vai ter um igual.

Não que eu odeie o IKEA. Afinal, sempre é melhor do que andar a vasculhar no lixo. Mas ainda alimento a esperança de um mundo melhor em que isto não tivesse de acontecer. Éramos livres, comprávamos móveis baratos e não tínhamos de o fazer dentro de uma espécie de Mc Donalds sueco conformista dos infernos.



* Deixo a pequena referência Orwelliana, não tão despropositada quanto isso

domingo, 1 de abril de 2012

O sítio

Lembro-me da primeira vez em que vim aqui. De como esperei de mãos nos joelhos, naquela recepção vazia, escrutinando as revistas à espera que elas me dessem respostas. Tentando parecer o mais natural possível. Cada vez que alguém passava: é conhecido, de certeza. Deve ser um autor de renome, essa pessoa que sobe as escadas com tanta desenvoltura, ou um editor, ou assim. Nas pregas das suas calças, o pó dos livros, mesmo que fosse só a senhora das limpezas. Gostava de me esconder na mala do seu carro, para vir cá todos os dias. É aqui, pensei eu. Já tinha ligado à recepcionista, quando andava à caça de quem me publicasse. Reconheço-lhe o timbre. Envie o original para a morada geral – repetia a voz cansada. Ela não me reconhece, mas eu sim. Agora já me trata pelo nome. Será que sabe como eu a odiei, naquele dia, ao telefone?
Chegámos ao andar, plink. Imaginava uma máquina de espremer escritores, dirigida por fatos sem rosto que os tentavam encaixar em quaisquer parâmetros correspondentes a valores abstractos deste mercado. Gráficos, betão, mesas muito longas com algumas cabecinhas a despontar nas pontas. Mas afinal não. Eram pessoas normais, com rosto, dois olhos e uma boca. Havia livros por todo o lado, pilhas deles, a cheirar a papel fresco. Era mesmo aqui. Podia esticar os dedos e estar tão perto do que queria ser.
Foi nesse dia, há mais de dois anos, que me trataram, pela primeira vez, como autora. E não como “uma miúda qualquer que gostaria de escrever livros”. Os comentários deixaram a base do “muita giro/chato” “gosto/não gosto”. Agora, podia ser a sério.