quarta-feira, 20 de abril de 2011

Festival Literatura em Viagem - 2011


Os aerogeradores - sim, acabei de aprender esta palavra - giravam imponentes, movidos pelo vento, exalando energias renováveis pelas brisas da Beira Litoral. Estava uma tarde fantástica na A8, até que tudo começou a correr mal. Um senhor agente de bigode combativo acena-nos ao longe para que tomemos o primeiro desvio à direita. Lá vamos em fila indiana até Pataias (não é assim tão interessante quanto o nome o possa sugerir) até que um ataque de genialidade nos empurra para um caminho alternativo “incomparavelmente mais rápido”. Quem é que quer ir para o Porto, e em vez disso acaba a ver o pôr-do-sol na praia da Nazaré? Boa tarde, o meu nome é Teresa Lopes Vieira.

Às onze da noite chegámos ao hotel com um único pedido: que nos indicassem um lugar para comer. Qualquer lugar. Um moço prestável, de sorriso copy-paste, aconselha-nos gentilmente o restaurante da esquina. Escutámos com atenção e, obviamente, escolhemos outro qualquer. Fartos de cambalear pelos cantos de cansaço, tocámos, hesitantes, a uma campainha de esquina aleatória. Acolheu-nos uma senhora de pálpebras azuis garridas, que trotava à nossa volta em pontinhas dos pés, e nos mimou como se de nossa mãe se tratasse. Era uma sala do género casamentos e baptizados onde, por dez euros cada, comemos fartamente. Mais tarde fomos a rebolar para o hotel. Ia ser assim em Leça e Matosinhos: engordar bem, à moda do Norte, todos os dias.

Mas o principal era o motivo da minha viagem. Aquilo em que já cismava há semanas. Há que compreender isto. Quando eu digo que vou assistir a um festival de literatura, no qual ainda por cima fui convidada a participar, é como uma miúda de 18 anos que recebesse de borla um bilhete para o Festival Sudoeste TMN. Os mais prestigiados autores, aquelas pessoas de cuja figura só normalmente vemos um busto constrangido na lapela de um livro; iam estar lá, passeando como se nada fosse, comportando-se como pessoas normais. Comendo, andando, dormindo, cagando. E eu no meio deles.
Sentavam-se na mesma mesa onde eu ia falar. Uns divagavam sobre a vida, outros liam textos, outros experimentavam o humor. E depois ia chegar a minha vez (quem é esta??). Como tentar igualar em interesse Richard Zimler, best-seller internacional, nesse dia sentado nem mais do que duas cadeiras ao meu lado? Tema: “o futuro é uma viagem da memória”... No fim, decidi-me a falar daquilo que de mais interessante me tinha acontecido nos últimos tempos: algumas viagens, o meu livro.
Penso que terá corrido tudo bem. Não desmaiei nem vomitei, ninguém se foi embora a meio; e eu, por minha vez, adorei poder fazer parte de um evento como este.

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