terça-feira, 24 de abril de 2012

Eu e o homem da Zon


Não sei o que fazer. Já o oiço a bater à porta e acabei de receber uma mensagem: informamos que a sua instalação, etc, etc, etc. As outras pessoas com quem vivi sempre fizeram isto por mim. Uma certa saudade dos quartos alugados, em que tudo estava incluído nas contas. Muito mais fácil. No limite, podiam até aldrabar, eu não me importava, desde que não tivesse de ser eu a tratar das coisas práticas. Correm-me sempre mal. Agora, o homem. Fala com um sotaque brasileiro que não entendo (não devia ser ao contrário?).Não, não faço a mínima ideia de onde quero o rooter. Pois, também não sei por onde entram os cabos. Enfim.
Exasperado e percebendo que vai ter de depreender a maior parte das informações básicas sozinho, sobe e desce com as mãos cheias de fios. Brilha-lhe, eterno, um meio-sorriso condescendente. Pela cabeça, decerto alguns pensamentos misóginos. Pois é meu amigo. Mas olhe que eu nem na cozinha, nem com putos, nada disso. Em geral, muito pouco do que seja prático ou inter-relacional.
Cabos por todo o lado. Deixa as portas abertas e o vento dos sítios vazios fá-las bater. O seu carrinho estacionado em cima do passeio, com as luzes a piscar. Piscariam durante três horas, porque esta é uma instalação muito complexa, tendo em conta o destinatário.
 E eu cheia de sono, a perceber que a casa ainda tem pó. Raspando paninhos pelos móveis, ocasional e furiosamente, a fungar de alergia. A chover lá fora e com vontade de adormecer na cama nova. Mas e se o homem precisa de mim? E se o homem me entra pelo quarto adentro? Pelo amor de deus, para isso existem os pisa-papeis. Que não tenho.
 E finalmente, algo acontece. O ecrã medieval começa a piscar, o homem grita da sala, levanto-me, corro, ah, ela funciona. Ligados à civilização, sorrimos um para o outro. Obrigada, não-sei-quantos. O seu serviço foi excelente. A casa não explodiu, não desta vez. A próxima paragem será o senhor Casimiro, para arranjar o esquentador. Mas essa é fácil. Não tenho de me sentir mal por não perceber de esquentadores.

2 comentários:

  1. Actualmente faz falta aquele tipo de "senhor jeitoso" que sabia fazer tudo e como deve de ser.

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  2. No Natal ofereço-te um pisa-papeis. Gosto que estejas protegida

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