terça-feira, 17 de abril de 2012

Não à burqa e ao niqab


Mais uma nota a propósito de Sarkozy e agora que a sua derrota se parece adivinhar.

O problema da burqa e do niqab em França está, infelizmente, conotado com o da xenofobia de direita, de modo a que estrangeiros=Islão=niqab, uma associação perigosa e não verdadeira. Assim sendo, chega-se a um paradoxo estúpido e muito pouco produtivo: o que, nos países árabes, é uma característica dos partidos conservadores (uso do niqab, ideia de que a mulher deve tapar o rosto) passa a ser defendido ou ignorado por alguma esquerda na Europa (tolerância em relação ao uso do mesmo).
Conclusão: rejeitando as outras politicas defendidas por Sarkozy – nomeadamente, ou sobretudo, em relação às restrições à imigração ou até mesmo a dificultação de outras práticas religiosas como a carne halal nas cantinas escolares – vejo-me obrigada a concordar com a da proibição da bruqa e do niqab, implantada há já mais de um ano pelo próprio.
É que seria interessante parar para pensar nas razões por detrás deste tipo de manifestações, antes de nos lançarmos numa troca de comentários sobre a liberdade religiosa. Que defendo, obviamente.
Só que em parte alguma o Alcorão exorta as mulheres a taparem a cara. Apenas os cabelos e os antebraços, o que, tal como na Bíblia, também pode ser discutível em termos de interpretação conjuntural. Já o fundamentalismo islâmico, esse sim, exorta; sendo o último uma interpretação distorcida e perversa do Islão, alimentada sobretudo por interesses políticos e económicos no Médio Oriente.
Estive no Egipto, onde o niqab, há tempos rareado, se tornou uma verdadeira “moda” (não estou a mentir no termo) entre as jovens que, deliberadamente, decidiram de maneira muito rápida que querem estar mais perto de Deus.
Não é difícil perceber que aquilo de que falamos é aqui é da manipulação de massas, concretizada essencialmente por xeques salafistas de determinadas mesquitas. Reforço, determinadas.
Como diz a jornalista Moha Eltahawy* – muçulmana e não usa véu – tapar o rosto de uma pessoa é uma das maiores formas de subjugação, já que as impede de usufruir do mais potente dos veículos de comunicação humana.

Ou seja, não ao desaparecimento progressivo das mulheres por detrás de véus pretos, o que de nenhuma maneira se contradiz com o exercício da liberdade religiosa.

O fundamentalismo pode e deve ser combatido, através de uma maior politica de integração das comunidades migrantes, sobretudo ao nível de lhe proporcionar as armas educacionais necessárias. Pondo isto em termos muito simples: uma mulher deve poder decidir o exercício das suas crenças baseando-se no que estuda (textos sagrados inclusive) e não no que ouve dizer a família ou um senhor lá na mesquita ao pé de onde mora.
De igual modo, um Estado deve poder proibir certas manifestações, quando entende que violam valores básicos como a laicidade e a igualdade entre géneros.

Parece-me, no entanto, que a questão do Islão em França é constantemente lançada um pouco como um isco politico, com cujos efeitos nenhum dos intervenientes se parece realmente preocupar.



* Ver mais sobre a jornalista em http://www.monaeltahawy.com/, para uma perspectiva fresca sobre o Médio Oriente, feminismo, Islão e outros assuntos de interesse global.

1 comentário:

  1. Todo o corão e islam são inválidos.
    Entre outras razões porque no inicio maumé nem corão tinha ou pedia e já chamava infiéis aos outros e paraticava crueldades.

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