domingo, 19 de agosto de 2012

Cuidado, acho que vais cair.


Com o risco assumido de que vou fazer um comentário provinciano, preciso de admitir que o conceito de moda em Portugal chega sempre um pouco desmembrado, relativamente ao resto do mundo. Quando, em certos países, como em França, a moda é um conceito bastante plástico que dá azo a várias derivações criativas; noutros países da Europa, como na Holanda, toda a gente se está mais ou menos nas tintas para o assunto; em Portugal, assistimos sempre ao mesmo conformismo, dentro do qual são introduzidos ocasionalmente elementos soltos, progressivamente adaptados por toda a população sem grandes variantes.
Estou a falar, por exemplo, dos saltos enormes de stiletto, que já apareceram há algum tempo, mas que só agora me aprouve  referir. (Sei que houve uma altura em que o meu comentário seria muito mais actual mas que se lixe, é o meu blogue.)
Adiante.
Hoje em dia, nos passeios acidentados de Lisboa, assistimos a pobres elementos do sexo feminino que se tentam içar, tais cabritas montesas, pelas sete colinas acima. Ou saltam dolorosamente, como aranhiços em sofrimento, de pernas dobradas perante a anti-naturalidade do seu desequilíbrio, julgando que estão a protagonizar a maior das elegâncias.
Mas não estão.
Se há algum efeito, geralmente causado, é o da pena.
 Para quê sofrer dessa maneira? E sobretudo: para agradar a quem? A si mesmas não é de certeza.

Por uma questão de principio e de conforto, deixei os saltos. Não tenho nada contra quem os use, impor escolhas aos outros não é o meu género, mas nada me impede de reflectir sobre a problemática... Que seca ter de usar aquilo!
Era, para mim, o mesmo que obrigarem-me a bater com uma panela várias vezes por dia na cara, sob o pretexto de eu parecer sexy a fazer isso.
Ora, afinal, não quero ser sexy nem agradar a um conceito de estética que me é imposto arbitrariamente. É bem mais divertido assim.

O que temos aqui, com os stillettos, é o conceito do il fault souffrir pour être belle levado ao extremo da catástofe: é que, neste caso, “souffrir” implica coisas tão potencialmente dramáticas como deslocar o tornozelo ou bater com os dentes no passeio. Meninas, por isso, se querem estar na moda, é melhor mesmo ter o Inem em tecla rápida no vosso iphone mega-ultra-tripla-tec-nec-super.
(O quê, ainda não têm um iphone mega-ultra-tripla-tec-nec-super?)

Sem comentários:

Enviar um comentário