quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A personalidade go with the flow


As novas medidas de austeridade anunciadas pelo governo, associadas ao Facebook, proporcionaram espaço a uma plataforma expressiva que detesto especialmente e à qual me permito chamar personalidade go with the flow.
Aos adeptos deste tipo podíamos vê-los, por exemplo, a defender um sistema político ultra-liberal ainda há coisa de um ano, porque estava vagamente na moda. No entanto, desde há duas semanas para cá, algo muda radicalmente na vida destas almas, que começam para aí a berrar
- É uma vergonha, pá! Ladrões, devolvam-nos o nosso dinheiro!
Não falo daqueles particularmente decepcionados pelo actual governo, porque este lhes mentiu à descarada, isso é diferente. O meu alvo, aqui, são os infelizes que nem sequer sabem porque é que vão para a rua gritar, mas no fundo até sabem: é porque os amigos estão lá.
Os adeptos da personalidade go with the flow são pessoas que nunca arriscaram nem vão arriscar exprimir uma opinião diferente e muito menos contraditória à da maioria. Quando estava na moda dizer bem do primeiro ministro, eles diziam. Agora que está na moda estar indignado, eles afinal também estão bastante indignados.

Mas isto não se reduz, nem por sombras, a uma atitude politica.

Geralmente, este tipo de gente nunca exprimirá um gosto literário, musical ou outro, caso o mesmo não esteja assegurado como sendo consensualmente cool. Eles vão aos concertos da moda porque “aliás, sempre gostei muito desta banda (mas só por acaso agora estou a falar dela)”, eles “sempre disseram que aquele restaurante era um dos melhores de Lisboa, mesmo antes de ganhar fama” (apesar de nunca lá terem ido). E outras idiotices que tais.
Isso é, por motivos óbvios, muito seguro e proporciona um certo modo de vida confortável. Um go with the flow nunca poderá ficar mal, em situação alguma.
Por outro lado, sabe que é medíocre e nunca logrará nada na vida, a não ser à custa dos outros, das suas ideias e da sua coragem.
Não estou a dizer que isto seja algo tipicamente português, até porque não foi por acaso que o Hitler chegou ao poder pelo voto democrático.
Entristece-me, no entanto, a insegurança humana. Se todos tivéssemos a decência de expressar aquilo em que acreditamos livremente, em vez que ir atrás da carneirada só porque isso nos faz sentir mais integrados, acho sinceramente que o mundo seria um lugar muito mais habitável. 

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