As novas medidas de austeridade anunciadas pelo governo,
associadas ao Facebook, proporcionaram espaço a uma plataforma expressiva que
detesto especialmente e à qual me permito chamar personalidade go with the
flow.
Aos adeptos deste tipo podíamos vê-los, por exemplo, a
defender um sistema político ultra-liberal ainda há coisa de um ano, porque estava
vagamente na moda. No entanto, desde há duas semanas para cá, algo muda
radicalmente na vida destas almas, que começam para aí a berrar
- É uma vergonha, pá! Ladrões, devolvam-nos o nosso
dinheiro!
Não falo daqueles particularmente decepcionados pelo actual
governo, porque este lhes mentiu à descarada, isso é diferente. O meu alvo,
aqui, são os infelizes que nem sequer sabem porque é que vão para a rua gritar,
mas no fundo até sabem: é porque os amigos estão lá.
Os adeptos da personalidade go with the flow são pessoas que
nunca arriscaram nem vão arriscar exprimir uma opinião diferente e muito menos contraditória à da maioria. Quando estava na moda dizer bem do primeiro
ministro, eles diziam. Agora que está na moda estar indignado, eles afinal
também estão bastante indignados.
Mas isto não se reduz, nem por sombras, a uma atitude
politica.
Geralmente, este tipo de gente nunca exprimirá um gosto
literário, musical ou outro, caso o mesmo não esteja assegurado como sendo
consensualmente cool. Eles vão aos concertos da moda porque “aliás, sempre
gostei muito desta banda (mas só por acaso agora estou a falar dela)”, eles
“sempre disseram que aquele restaurante era um dos melhores de Lisboa, mesmo
antes de ganhar fama” (apesar de nunca lá terem ido). E outras idiotices que tais.
Isso é, por motivos óbvios, muito seguro e proporciona um
certo modo de vida confortável. Um go with the flow nunca poderá ficar mal, em
situação alguma.
Por outro lado, sabe que é medíocre e nunca logrará nada na
vida, a não ser à custa dos outros, das suas ideias e da sua coragem.
Não estou a dizer que isto seja algo tipicamente português,
até porque não foi por acaso que o Hitler chegou ao poder pelo voto
democrático.
Entristece-me, no entanto, a insegurança humana. Se todos tivéssemos
a decência de expressar aquilo em que acreditamos livremente, em vez que ir
atrás da carneirada só porque isso nos faz sentir mais integrados, acho
sinceramente que o mundo seria um lugar muito mais habitável.
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