segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A mulher na casa dos 30 que ainda está solteira


Agora, de cada vez que vou a  um encontro de família, os mais velhos dirigem-me um esgar de pena comprometida, por ter acabado com uma relação duradoura, pormenor imperdoável: aos 28 anos. É que, para as gerações que me antecedem, isso torna-me parte de uma categoria da sociedade que corre sérios e irreversíveis riscos. Eu sou “a mulher na casa dos 30 que ainda está solteira”.

Bem no-lo tentaram impingir durante toda a nossa juventude: filmes, livros, séries, sermões de moral e que sei eu mais. Que, normalmente, eram ilustrados pela história de uma qualquer pobre e desesperada donzela que, apesar de ser bonita (e possuir outras qualidades aprovadas segundo o padrão de mulher socialmente aceitável, tais como: ser inteligente mas não demasiado, ser engraçada sem ser tonta, esse tipo de coisas), ainda não se tinha casado mas já se estava a aproximar perigosamente da idade limite para tal. O que era terrível, claro.
No entanto, depois de uma série de peripécias, ela lá encontrava um gajo qualquer e tudo acabava bem. Lembramo-nos bem delas: as Bridget Jones, as Carrie Bradshaws e as Jennifer Anistons da vida.  A lição era sempre a mesma: todas podiam ter as suas vidinhas e roupinhas e tal, mas o objectivo último era sempre o de encontrar um homem, condição sem a qual a eterna ameaça da infelicidade pairaria.
O que acontece é que, chegando à idade em questão percebemos que isso tudo é uma tanga enorme.

Estou, agora, feliz e com perspectivas de futuro ainda melhores. Vivo sozinha e ninguém me chateia, saio com amigos todos os fins de semana se me apetecer, não tenho crianças a gritarem-me aos ouvidos, estou com quem quero, não tenho de fingir que acho giros os bebés das mulheres dos amigos dos outros e não tenho a mãe de ninguém a tentar ensinar-me a cozinhar empadão de brócolos em frente à novela ao domingo à tarde.
E se um dia me apetecer formar família, assim o farei. Se não, não. Fascinante é que isso não constitui para mim nenhuma espécie de questão existencial. Afinal, chegando a esta idade e vivendo sozinha, descubro que não me desintegrei nem explodi nem me aconteceu nada de terrível: antes pelo contrário.
Olho à minha volta e verifico que não sou caso raro. Muitas das mulheres que conheço na minha situação estão tão ou mais felizes do que as outras.
É o máximo ser-se uma mulher na casa dos 30 que ainda está solteira. Porque podemos viver todas as aventuras que dantes só eram permitidas aos homens na casa dos 30 que ainda estavam solteiros. Afinal, o mundo e a sociedade sempre têm tendência para avançar. Talvez um dia as nossas tias e avós percebam isso e fiquem contentes por nós.


2 comentários:

  1. O importante é ser-se feliz. E cada um deve procurar genuinamente aquilo que o faz sentir-se completo, seja uma pessoa, um objecto ou uma experiência. O que é bom para os outros poderá não o ser para nós.

    Beijinho. ;)

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