Agora, de cada vez que vou a um encontro de família, os mais velhos dirigem-me um esgar
de pena comprometida, por ter acabado com uma relação duradoura, pormenor imperdoável:
aos 28 anos. É que, para as gerações que me antecedem, isso torna-me parte de
uma categoria da sociedade que corre sérios e irreversíveis riscos. Eu sou “a
mulher na casa dos 30 que ainda está solteira”.
Bem no-lo tentaram impingir durante toda a nossa juventude:
filmes, livros, séries, sermões de moral e que sei eu mais. Que, normalmente,
eram ilustrados pela história de uma qualquer pobre e desesperada donzela que,
apesar de ser bonita (e possuir outras qualidades aprovadas segundo o padrão de
mulher socialmente aceitável, tais como: ser inteligente mas não demasiado, ser
engraçada sem ser tonta, esse tipo de coisas), ainda não se tinha casado mas já
se estava a aproximar perigosamente da idade limite para tal. O que era terrível,
claro.
No entanto, depois de uma série de peripécias, ela lá
encontrava um gajo qualquer e tudo acabava bem. Lembramo-nos bem delas: as
Bridget Jones, as Carrie Bradshaws e as Jennifer Anistons da vida. A lição era sempre a mesma: todas podiam
ter as suas vidinhas e roupinhas e tal, mas o objectivo último era sempre o de
encontrar um homem, condição sem a qual a eterna ameaça da infelicidade pairaria.
O que acontece é que, chegando à idade em questão percebemos
que isso tudo é uma tanga enorme.
Estou, agora, feliz e com perspectivas de futuro ainda
melhores. Vivo sozinha e ninguém me chateia, saio com amigos todos os fins de
semana se me apetecer, não tenho crianças a gritarem-me aos ouvidos, estou com
quem quero, não tenho de fingir que acho giros os bebés das mulheres dos amigos
dos outros e não tenho a mãe de ninguém a tentar ensinar-me a cozinhar empadão de brócolos
em frente à novela ao domingo à tarde.
E se um dia me apetecer formar família, assim o farei. Se
não, não. Fascinante é que isso não constitui para mim nenhuma espécie de questão
existencial. Afinal, chegando a esta idade e vivendo sozinha, descubro que não
me desintegrei nem explodi nem me aconteceu nada de terrível: antes pelo
contrário.
Olho à minha volta e verifico que não sou caso raro. Muitas
das mulheres que conheço na minha situação estão tão ou mais felizes do que as
outras.
É o máximo ser-se uma mulher na casa dos 30 que ainda está
solteira. Porque podemos viver todas as aventuras que dantes só eram permitidas
aos homens na casa dos 30 que ainda estavam solteiros. Afinal, o mundo e a
sociedade sempre têm tendência para avançar. Talvez um dia as nossas tias e
avós percebam isso e fiquem contentes por nós.
olha e estás muito bem, solteira!
ResponderEliminarO importante é ser-se feliz. E cada um deve procurar genuinamente aquilo que o faz sentir-se completo, seja uma pessoa, um objecto ou uma experiência. O que é bom para os outros poderá não o ser para nós.
ResponderEliminarBeijinho. ;)