Correndo o risco de escrever um texto altamente polémico,
não resisti, no entanto, a queixar-me aqui de um fenómeno que as redes sociais
têm vindo a potencializar e que me parece ter chegado a um limite já pouco
interessante.
Para que não restem dúvidas: considero-me uma boa pessoa e
gosto de animais, preocupo-me com o próximo, ajudo os outros, não faço mal a
ninguém e envolvo-me em questões sociais. Mas fico um bocado farta ao constatar que
tenho de ser, agora, diariamente, bombardeada com fotografias de coelhos,
gatos, osgas e grilos e que sei eu mais; que estão todos “a precisar de um
lar”, “a precisar de um transplante”, “a morrer” ou simplesmente “muito
queridos e quase humanos, olhem como eles são indivíduos especiais com
personalidade”, etc, etc
Não é que eu tenha algo contra um ideal de convivência em
harmonia cósmica, sem guerras nem poluição e com felicidade e paz para todos os
seres. Mas tanta coisa já se torna insuportável e roça quase, a meu ver, uma
espécie de loucura. Sinto, eu separo o meu lixo. Não, eu não vou dar porrada em
gatos doentes nem vou abandonar um cão velho no meio da estrada. Ok, eu posso
olhar para os rótulo do champô para ver se não foi testado em coelhinhos ou
coisa que o valha. Mas, por favor, acalmem-se um pouco.
Primeiro, acabem com essa coisa de culpabilizar o ser humano
de todo o mal que há no mundo: desde sempre que os animais se comem e matam uns
aos outros. Não que eu ache isso bom (nem estou a desculpar nada) mas é que já
chega essa ideia da expiação constante e do “peço desculpa por ser humano oh,
sou tão péssimo por ser humano (e olhem os animaizinhos, como são peludos e
puros)”.
Segundo, eu posso beber o meu leite se me apetecer e não tem
de ser de soja. Posso gostar de carne, tal como os meus antepassados desde há
milhares de anos o fazem, e isso não me torna num monstro. E posso não estar
constantemente obcecado/a com a quantidade de insecticidas na minha alface, a
sério, isso não tem de ser uma preocupação constante.
Era interessante que essas pessoas que passam os dias a pôr
fotografias de rabanetes biológicos, cães perdidos e/ou maltratados no facebook
olhassem um pouco para o mundo à sua volta: o dos humanos. De certeza que há
muita injustiça na nossa terra, a esse nível, também que com tanta confusão de animais e plantas em
extinção, acaba por lhes escapar. Aliás, talvez essas manifestações todas derivem de questões politico-eocnomicas, que nos compete combater, em larga escala. Não é para generalizar mas, segundo a minha
experiência, essa gente acaba muitas vezes por se esquecer de contemplar os
problemas e as dificuldades muito piores dos seus pares: recorde-se, as
pessoas.
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