segunda-feira, 18 de março de 2013

Trastorno narcisista da personalidade? Not interested.


Tudo começa com uma cerveja ao início da noite. Explica-me que trabalhou numa marca de óculos de sol. Claro que isto não é senão uma desculpa para me mostrar os seus óculos, que supostamente custariam 500 euros, mas que, como foram feitos expressamente para ele, foram de graça e ainda têm as suas duas iniciais gravadas na aste. Oh não – penso eu, eis mais um que vai passar a noite a gabar-se. E assim foi. Este meu novo amigo, durante as três horas em que estivemos juntos, só me falou de roupa, do preço das coisas grátis que lhe ofereciam e das marcas que usava. Não sei se estava ao corrente do facto de isso ser profundamente insuportável. Suponho que não.

Serve esta introdução para me queixar das pessoas que sentem este tipo de necessidade de gabar-se. Seja sobre bens materiais, sobre quão bons são a exercer a sua profissão ou sobre outro tipo de atributos quaisquer dos quais se achem muito detentores. Pergunto-me sempre se há aqui alguma fragilidade qualquer ou uma insegurança profunda. Porque, normalmente, há. Quando somos obrigados a levar uma seca de não sei quantas horas sobre o quão bom é o outro, normalmente, é porque o outro, no fundo, não se acha assim tão bom e pensa que, convencendo-nos de que o é, se vai também convencer a si mesmo. Isto, escusado será para alguns dizer, é muito irritante.

Nas escolas americanas de escrita de ficção, ensina-se uma velha máxima chamada “show, don’t tell”, que nos diz basicamente que o leitor não acredita em nós se dissermos alguma coisa, apenas se o mostrarmos, pintando-lhe assim uma imagem visual que ele mais facilmente irá interiorizar. Deste modo, não me basta, por exemplo, dizer que “a praia é bonita”, porque isso não significa nada; devo, isso sim, descrever a tal praia, de modo a provar a minha afirmação. Na vida, muitas vezes, passa-se o mesmo, na medida em que estamos mais sujeitos a acreditar nas faculdades dos outros se eles no-las mostrarem; por oposição ao estarem o tempo todo a evocá-las oralmente. Parece-me, assim de repente, que alguém beneficiaria de umas aulas de escrita criativa. 

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