Não me levem a mal, eu não tenho nada contra as pessoas que
gostam de ver televisão. Pelo contrário, considero-a um acessório lúdico como
outro qualquer, tão útil como uma ventoinha ou um vibrador. Critico, no
entanto, a importância que este objecto de aparência inofensiva assume nas
relações amorosas, ao ponto de se tornar num terceiro elemento mecânico, com
pretensões a resolver todo o tipo de contendas e dilemas interpessoais.
Ao principio, está tudo bem, parece. Conhecemos uma pessoa
interessante, vamos lá a casa ver um filme, coiso e tal, pronto. Sem problemas.
Pouco a pouco, no entanto, ela torna-se num escape de
conforto quando tudo começa a correr mal. Afinal descobre-se que não se tem
nada em comum? Não há problema, põem-se as noticias e diz-se mal dos políticos. Não
tem uma conversa de jeito: vamos ver um filme? Ai está a ter um ataque de
ciúmes outra vez? adoro esta série, por favor, é o último episódio.
Sem mesmo disso nos apercebermos, a televisão começa a
ocupar um lugar central nas nossas vidas, um pouco como um acréscimo ou um
órgão adicional do casal, sem o qual o último já não se consegue viver. Pior:
é, tristemente, por vezes, aquilo que nos mantém juntos. Porque serve uma
desculpa para tudo, resolve todos os problemas e no fundo, se virmos bem, acaba
por adiar muitas das separações. Estamos demasiado ocupados com outra coisa
para nos concentrarmos nos nossos próprios problemas e então vai correndo tudo
bem até faltar a luz.
Perguntei-me o que é que as pessoas faziam quando não havia
televisão e a resposta não tardou a vir: faziam filhos, conversavam,
embebedavam-se, iam a festas, planeavam guerras, ou deitavam-se cedo para
acordar às 5 da manhã. Nada disso me parece nem mau nem particularmente melhor.
A televisão é apenas o ménage à trois da era pós-moderna, temos de nos
contentar com isso e esperar que – se é que já não o faz – a mesma nunca venha
a assumir nenhum papel estranho de teor sexual nos assuntos domésticos.
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