Descobri um novo desporto chamado spinning. A maioria dos
comuns mortais já o fez há dez anos mas eu, como costumo andar distraída, só
agora me apercebi dele e dos seus benefícios.
Para os que nunca experimentaram, o spinning consiste em
fazer de conta que se anda numa biclicleta, que na verdade está presa ao chão
mas que nos obriga a fazer esforços loucos e suar como um cavalo, fingindo que
andamos a tentar subir montanhas ao mesmo tempo que fugimos de um tractor
enfurecido ou coisa que o valha. Claro que, segundo alguns, isto é uma
actividade sintomática da sociedade urbano-depressiva em que vivemos, que nos
faz criar todo um mundo de ilusão sem sentido, quando no fundo devíamos era andar
aí ao ar livre a correr com os passarinhos. Não discordo, mas estou-me nas
tintas, porque de qualquer maneira não é esse o ponto que quero focar agora.
Gostava era de falar aqui dos meus progressos na actividade
do spinning, dos quais descobri que me orgulho bastante.
Devo dizer que as primeiras aulas foram duras para o meu
ego. Estava eu nos píncaros, muito orgulhosa da minha actividade, quando ouvi a voz da professora a ressoar pela sala
inteira: “Teresa, ao menos tenta fazer alguma coisa.” Cai das nuvens. Alguma
coisa? Mas eu achava que estava a fazer tudo bem! Passado o momento de agonia,
decidi que tinha de me esforçar. Demorei algum tempo a perceber que estava na
verdade a fazer tudo mal e que os reparos não eram despropositados: não sabia
colocar o assento correctamente, encontrava-me mal posicionada e raramente me
conseguia manter ao ritmo dos meus colegas. Resumindo, era uma nulidade. Escondia—me
atrás de uns e de outros, mas a professora encontrava-me sempre e berrava repreensões suadas na minha direcção, através do seu microfone. Muito humilhante. Sou uma
intelectual, no entanto, na hora da verdade, é sempre o físico que nos julga. É
sempre assim, na grande selva da vida.
Mas eis que ontem o mundo se iluminou em grandeza; pela
primeira vez, a professora de spinning fez-me o sinal de polegar levantado, do
outro lado na sala. E hoje, nem acreditei na minha felicidade: ela fez-me o
sinal outra vez! Quererá isto dizer que a minha prática de spinning se está a
tornar “fixe”?!
Quando tudo correr mal, não me vou suicidar: vou fazer spinning. Eis alguma coisa em que, pelo menos, sou devidamente apreciada.
Quando tudo correr mal, não me vou suicidar: vou fazer spinning. Eis alguma coisa em que, pelo menos, sou devidamente apreciada.
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