Toda a gente que já dedicou o mínimo de ponderação ao
assunto pode concluir que, nos tempos dos nossos avós, o engate era uma coisa
lixada. Primeiro, havia os olhares. Depois, os passeios, os jantares, os
bilhetinhos, o jantar com os pais. Demorava-se anos a dar um beijinho que fosse. Havia
muita masturbação, sob o olhar judicioso do pároco. E depois havia os bordeis.
Os senhores de antigamente (as senhoras não, porque jamais
se ousaria imaginá-las sujeitas a tais ímpetos impuros), coagidos às normas
estritas da época, no que dizia respeito ao pudor e ao sexo, eram por assim
dizer obrigados a satisfazer os seus impulsos carnais noutro lado.
Nas últimas décadas, como sabemos, tudo mudou. Isso tem um
lado positivo. Hoje em dia, a mulher não precisa de se esconder ou de andar a
dar satisfações a seja quem for, aborda o tema livremente e melhor: não tem de
fingir que não gosta de sexo, o que é um alivio.
No entanto, com a banalização do sexo casual, surgiu também
um fenómeno que se espalhou em massas, e a que gosto de chamar a
namorada light.
Já todos ouvimos a história. “Ele disse-me coisas carinhosas, mas já não me liga há quatro dias.”; “Ele anda muito ocupado, por isso só me liga a partir das dez da noite ou quando está bêbado.”; e a minha preferida: “Ele dorme comigo, mas diz que não está preparado para uma relação”.
Já todos ouvimos a história. “Ele disse-me coisas carinhosas, mas já não me liga há quatro dias.”; “Ele anda muito ocupado, por isso só me liga a partir das dez da noite ou quando está bêbado.”; e a minha preferida: “Ele dorme comigo, mas diz que não está preparado para uma relação”.
Pior, numa certa medida, em maior ou menor grau, já quase todas as
mulheres adultas fizeram parte desse tipo de história. É inevitável.
Com a chegada do sexo fácil, e sendo este encarado com uma
coisa cool, é muito mais provável que o mesmo seja aproveitado essencialmente
pelos homens. Quer queiramos quer não, a generalidade das mulheres andou a ver demasiados
filmes e desenhos animados durante a infância. Enquanto os meninos destruíam pontes
com camionetas da Playmobil e recebiam lições de como engatar miúdas por parte
de um tio qualquer que bebia demasiado gin à hora de almoço, as meninas viam A Bela
Adormecida e A Rainha da Sucata (novelas da Sic: o pior que pode haver em
termos de preparação para a vida real). Aí, era-lhes ensinado que existia uma
coisa chamada amor à primeira vista e que quando o encontrassem, teriam também um parceiro eterno e iriam ser muito felizes. Não quer dizer que isso não exista (vou saltar agora, por questões práticas, por cima da análise da questionável relação de causalidade entre estes três elementos). Mas, na maior
parte das vezes, há pelo menos 8 chances em 10 de ele não ser o Zé-do-bairro
que trouxemos no outro sábado para casa depois de uma noite de bebedeira total.
A namorada light é a namorada confusa que, gostando de sexo
e tendo decidido ceder aos seus impulsos, achou que tinha encontrado o príncipe
encantado e decidiu dar-se a ele na mesma noite, na sua própria adaptação
moderna dos contos infantis que ouvia.
No entanto, a menos que a gratificação funcione no seu pleno
para os dois lados (o que é uma hipótese obviamente válida) não vale a pena
quando apenas uma das partes espera que a situação evolua muito mais - e seria uma hipocrisia negar que esta parte é, na generalidade dos casos, a feminina. Se
preciso for, façamos as coisas à moda antiga: afinal, a masturbação e os
bordeis ainda estão lá por alguma razão.
texto delicioso... Mas o epíteto de namorada light, só me faz lembrar o poder adoçante sem calorias... Sabor sem presença. Gelado de fábrica, saudável mas com prazer limitado...
ResponderEliminarE depois há a inversão do Homens que antes eram sal e agora são açúcar...:)