quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Gatos

“Este vídeo mostra como os gatos têm muito mais sentimentos do que alguns Homens”, “Quanto mais conheço os Homens, mais curto os animais!”, “Olhem e aprendam: a lição dada pela valentia deste cão... e depois ainda dizem que os animais não têm sentimentos!”.
Estar-se preocupada com a humanidade pode ser, regra geral, um sinal de arrogância. No entanto, ao ver vídeos e fotografias de gatinhos fofinhos no Facebook, acompanhados com comentários destes, não posso impedir um sentimento desse género.
Se esta rede social trouxe algo de útil, quanto a mim, foi uma advertência contra o facto de aquilo que se passa na cabeça das pessoas poder ser ou mortalmente aborrecido, ou extremamente preocupante. Os comentários dos animais, na maior parte das vezes, parecem-me caber numa das duas categorias.

É claro que gosto de animais. Acho que são giros, merecem direitos e a nossa atenção. Mas eis tudo. Não os acho melhores do que as pessoas e sobretudo não acho que mereçam o mesmo estatuto. Não quero que durmam na minha cama, nem acho interessante vesti-los com roupas humanas, nem acho que tenham sentimentos mais “puros” do que nós.
Porquê? Euh... porque eles não são humanos, e fingir que são parece-me apenas uma fantasia um pouco psicótica por parte daqueles que, ao não se darem bem com as pessoas, decidem inventar um novo estatuto: uma espécie de homem-cão-gato-doméstico, que não fala, obedece a todas as nossas ordens e ainda é o nosso melhor amigo para sempre da vida inteira até morrer. A noticia triste? Esse homem-cão-gato-doméstico não existe.

Não sabia que havia tanta gente decepcionada com o mundo, mas no fundo faz bastante sentido: há as guerras, os desgostos amorosos, os amigos que nos traem. Depois, para solucionar isso tudo, há os animais de estimação: não falam, são fofinhos e são sempre fieis, quanto mais não seja porque perceberam que somos nós que lhes damos a comida (a sério, lamento a brutal honestidade, mas, do ponto de vista da biologia evolutiva, é de facto a principal razão).
Mais uma vez, eu gosto de animais, a sério, e também os acho bons e inteligentes. Mas dentro de uma lógica normal, acho eu e não psicótica.
Para aquilo que importa explicar, a única diferença entre nós e os animais domésticos é que estes não possuem um cérebro tão desenvolvido quanto o nosso. Se o fizessem, com certeza já nos teriam mandado à merda, traído a nossa amizade ou endrominado nos negócios. Mas como isso ainda não acontece, alguns de nós continuam alegremente a achar que, por serem menos evoluídos, os animais são “superiores” aos Homens. O que, a meu ver, indicia uma certa inclinação sociopata.


Não sei o que virá a seguir. Interpelações para casarmos com gatos em vez de pessoas? Chegaremos a ir para a cama com os nossos gatos?
Na luta pela aceitação social e amorosa, a animalização não me parece ser a solução. Pessoas, resolvam os vossos problemas, umas com as outras, de preferência e deixem os animaizinhos fora do barulho. Pode ser ambicioso, mas é a minha sugestão.

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