domingo, 8 de agosto de 2010

Deseja aderir ao Grupo de fãs do Violador de Telheiras?

O Facebook é uma rede social extremamente eclética, que possui todo o tipo de utilidades: encontrar velhos amigos, estabelecer contactos profissionais, e até apoiar o Violador de Telheiras. Pois é, a Internet é mesmo espaço para todos os gostos.

Henrique Sotero era, ao que parecia, um pacato rapazote de 30 anos, trabalhador-estudante, frequentador do curso de Engenharia. Vivia há três anos com a namorada, num apartamento em Massamá. Ninguém daria por ele, se não fosse o facto de ter sido recentemente acusado de 74 crimes, 40 dos quais violações de raparigas adolescentes entre os 13 e os 17 anos. Agia de forma premeditada. Escolhia vítimas facilmente submissas que lhe pudessem oferecer pouca resistência. E, ao longo da violação, era frequente submetê-las a interrogatórios sobre a sua vida íntima e hábitos sexuais. Caso fosse necessário, fazia-o à frente dos respectivos namorados. Frequentemente colmatava os seus assaltos com outras agressões físicas. Ora, isto não parece ter grande importância para os inventivos criadores desta página, assim como os seus “fãs” (sim, porque o Violador de Telheiras tem fãs), que acham que este merece uma “segunda oportunidade”.

Não querendo negligenciar a liberdade de expressão de cada cidadão, e consciente de que todos temos um direito inalienável nesse sentido, resta-me questionar no mínimo a agenda demasiado leve destes camaradas cibernautas. Que o Facebook sirva para tudo, desde salvar as avestruzes do Saara, a promover a Padaria da Maria, é algo a meu ver legítimo. Um meio para atingir um fim, proporcionando-lhe mais visibilidade e força. Afinal, é preciso aproveitar os benefícios que este começo de século coloca ao nosso dispor, entre os quais as novas tecnologias, que nos permitem comunicar mais rapidamente com um maior número de pessoas. Mas, a menos que se esteja aqui a apelar à indulgência por parte dos futuros companheiros de cela de Henrique Sotero, que possam eventualmente tentar fazer “justiça” pelas suas próprias mãos (o que me parece pouco provável, tendo em conta a inflexibilidade desse target em particular), a página de apoio ao Violador parece-me uma jogada bastante supérflua. Estamos a falar de um homem de 30 anos. Tendo em conta que a pena máxima de prisão em Portugal é de 25, com possibilidades de ser reduzida justamente como meio de proceder a uma inserção social mais eficaz (a tal “segunda oportunidade”), parece-me um pouco escusado criar-se um movimento popular nesse sentido.

Por muito cristão que se seja, penso que existirão outros meios, sem dúvida mais úteis, de ajudar os criminosos portugueses na sua integração social (já nem falo no facto bizarro de se escolher justamente um sujeito acusado de 40 violações, para lutar pela sua integração social, pois presumo que o fundador desta pagina seja familiar do dito cujo). Assim por alto vêm-me à cabeça alguns exemplos, entre eles trabalho comunitário, visitas regulares ao individuo no seu local de aprisionamento, ou até mesmo, se se fizer muita questão disso, o pagamento de sessões de terapia.

Agora clicar “gosto” numa página internet parece-me, neste caso, tão inútil quanto ingénuo. Basta tentar compreender o que sentirá uma das vítimas ao de repente perceber que existem algo como 30 “fãs” do seu violador no Facebook, ou mesmo receber uma mensagem a dizer “Violador de Telheiras adicionou-te como amigo”.

1 comentário:

  1. Cara Teresa,

    excelente post. De facto existe um grupo de pessoas (penso ser muito reduzido) que parece querer desculpabilizar os crimes que este sujeito cometeu. Devem ser os mesmos que criaram um blog que, depois de ter alguns comentários mais "duros" decidiram disponibilizá-lo apenas a leitores convidados (http://reclusao.blogspot.com). Da minha parte, no que diz respeito ao esquecimento, espero que esqueçam como se abre a cela deste indivíduo porque, seja qual fôr a pena que lhe seja aplicada, nunca será feita justiça com as jovens que ele molestou.

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