segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pessoas que têm amigos famosos imaginários

Numa altura em que o país está em crise, e metade do Mundo a ser dizimada por catástrofes naturais de proporções bíblicas, sinto que me cabe a mim chamar à atenção para um não menos preocupante flagelo da humanidade: aquelas pessoas que falam de gente famosa usando apenas o seu primeiro nome, mesmo não a conhecendo de lado nenhum.
Ora imaginemos um exemplo. Os interlocutores aqui sou eu, e uma Pessoa que tem um Amigo Famoso Imaginário (PTAFI):
Eu: Então, vais ficar em casa hoje à noite?
PTAFI: Épá não, vou jantar fora, mas antes queria ver o programa da Diana.
Eu: De quem?
PTAFI: Da Diana! Aquele que dá na SIC, ao fim da tarde – responde o meu interlocutor, com um ar de superioridade, como se eu fosse mesmo uma ignorante por não conhecer a “Diana”.
Nota: esta pessoa conheceu uma vez a Diana Chaves, num jantar, pois tem uma prima cujo namorado é por sua vez irmão da tia da vizinha desta figura pública. Desde então nunca mais a viu, e isso foi há dois anos atrás.
Indivíduos incomodativos deste tipo aparecem, infelizmente, com crescente frequência; pelo menos no meu dia-a-dia. Não entendendo este fenómeno, mas deparando-me nele com cada vez maior assiduidade, decidi dedicar-lhe neste pequeno espaço algumas linhas de reflexão.
Será assim tão difícil para certas pessoas perceber que este comportamento é na verdade profundamente irritante, e não imensamentemente cool como eles possam talvez julgar?

Começo a perceber que, chegando a uma certa idade, há quem não se conforme com o caminho que a sua vida começa a seguir. Não se é convidado para festas do jet-set, não se aparece na televisão, não se contribui significativamente para a sociedade (pelo menos não o suficiente para se ser reconhecido por isso na praça pública). (Atenção: a meu ver, isto não coloca problema de espécie alguma. Existem muitas outras maneiras de se ser um ser humano completo e feliz, esta não contando necessariamente entre elas. No entanto, pelos vistos, muitos parecem não partilhar desta opinião). Assim sendo, só resta e estes indivíduos fingir desesperadamente, tentando construir uma imagem errónea de si mesmos. Possivelmente para se sentirem mais conformados com a sua suposta malfadada existência.
E, assim sendo, falam de pessoas famosas com a maior familiaridade, como se de facto partilhassem uma relação íntima com elas. O que as leva a crer, subentendo, que isso as torna pessoas muitíssimo interessantes.

Correndo o risco de parecer demasiado revolucionária na minha maneira de pensar, atrevo-me no entanto a afirmar que não me parece, nem por um segundo, que este tipo de atitudes sejam abonatórias a favor de ninguém. Com a facilidade com que se é famoso hoje em dia, e tendo em conta que para isso nem sequer são necessários muitos requisitos, não percebo porque é que estas pessoas, que têm amigos famosos imaginários, não se tornam elas mesmos famosas de uma vez por todas. Já que isso parece ter um fascínio qualquer para as suas existências.
E agora, se me permitem, tenho de me retirar, para assistir ao Telejornal. É que estou curiosa em relação ao que o José vai dizer hoje, em relação à ameaça que o Pedro fez de chumbar o Orçamento de Estado para 2011.

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