segunda-feira, 14 de março de 2011

KIri-kiri Kiri-kiri-ki

Os Homens da Luta são - para aqueles que apenas agora deles ouvem falar, em consequência da sua inusitada vitória na mais recente edição Festival da Canção – dois personagens há alguns anos criados pelo humorista Jel e o seu irmão, para o programa televisivo Vai Tudo Abaixo. Homens do PREC, com nítidas influências Zécafonsianas, revolucionários com propensão para semear a desordem; levaram o troféu para casa neste evento do qual já pouco ou nada se sabia ou queria saber.
Pasmo-me ao deparar-me nas reacções mais indignadas, nomeadamente por parte daqueles que, de resto, têm em outras ocasiões merecido o meu profundo respeito.
Penso que o humor é uma forma de contestação tão legítima como qualquer outra. Mais: democrática e necessária, já que se trata de uma maneira eficaz de despertar consciências (sobretudo as mais jovens, muitas vezes adormecidas). Não é novidade que ultimamente se verifica algum sentimento de apatia e desinteresse por parte da população, relativamente ao que se passa dentro das lutas politicas; sobretudo devido à sua impotência e frustração ao perceber que estas poucas respostas práticas têm trazido aos problemas económicos e sociais. Se o humor é uma forma de reavivar a esperança de que a situação melhore, porque não aceitá-lo?
Posto isto, contrariamente a alguns, não estou minimamente preocupada com a nossa figura neste particular diante dos alemães. Não me parece que a aptidão de Portugal para receber dinheiro da União Europeia tenha o mínimo que ver com a nossa performance no Festival da Eurovisão. Mas se, por um acaso do destino assim o for, acho que muito pelo contrário, se eu fosse alemã adquiriria todo um novo respeito pelos lusitanos. Com efeito, a candidatura dos Homens da Luta parece-me uma proposta bem útil a quem pretende pedinchar dinheiro. Mostra que somos um povo criativo e vanguardista, pouco conformado e com personalidade - tudo qualidades propícias a aliciar os potenciais investidores estrangeiros.
Nas poucas entrevistas que vi com estes humoristas, entristece-me particularmente o distanciamento irónico de alguns jornalistas em relação aos mesmos; bombardeando-os com perguntas sarcásticas, quase como se sentissem ameaçados. A verdade é que o humor é um veículo poderosíssimo para passar certas mensagens, e subestimá-lo não me parece de todo o caminho. Utilizar os meios que se nos apresentam para expressar algo que, de outro modo, se reflectiria em choraminguice e queixumes (ie, a crise) parece-me bastante saudável. Não nos levemos demasiado a sério. Por norma, isso só tende a piorar as coisas. Acho extremamente animador – e daqui retiro o exemplo – que em relação a tempos tão difíceis os portugueses sejam capaz de aclamar uma mensagem positiva e divertida.

Será que os alemães ficariam mais bem impressionados com esta finalista?

1 comentário:

  1. Acho que... sei lá, foi na mouche. A Teresa acertou em cheio, disse tudo aquilo que penso e comentar isto com uma qualquer teoria mirabolante ia ofuscar - ou pelo menos uma parte - deste texto, que disse aquilo que é verdade.

    As pessoas estão a levar esta história dos Homens da Luta muito a sério. Tal como diz, eles são quase cómicos; fazem isto a meias: meio brincadeira, meio crítica. Mas o humor, como também diz, serve exactamente para isso: se assim não fosse, ninguém os levaria "a sério" (dê para que lado der. Neste caso encaixa bem os dois sentidos). Isto vai representar Portugal, mas ninguém está à espera que isto mude o país; quem é que ainda se importa com este concurso? É um "sem-vidismo" incrível e, como eu costumo dizer, um "serious business" que não tem de ser assim.

    Eu vou-me divertir a ver os HdL por lá, quanto mais não seja para ver como as pessoas reagem. É uma sátira, deixem-se de dramas.

    PS: A Filipa é de facto uma mulher bem engraçada para os olhos. Não esteve mal no FdC, mas não me seduziu... em termos de música.

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