terça-feira, 8 de março de 2011

Vacas - Gordura - Morte

Faz mal, entope as veias, e engorda. No entanto, continuamos a voltar a ele, como uma mosca atraída por um pedaço de excrementos canino. De quem falo? Do Mc Donalds, obviamente; uma das maiores armas de sempre no que concerne a arte da manipulação humana. Da qual, confesso, eu mesma sou uma vítima. Admitamos, todos lá damos um pulinho de vez em quando. Nem que seja para tomar um café (que ocasionalmente se transforma em sundae, que se transforma num mega-menu XL combo com triplo queijo e batatas).
Por vezes sinto que a relação psicológica que geralmente a humanidade estabelece com esta cadeia de fast-food será mais ou menos aquela que um bêbado tem com a sua garrafa de whisky. Não que aqui se crie uma relação de dependência tão forte, claro. Mas enfim, suponho que o sentido de degredo seja o mesmo.
Porque tal como o mesmo para o seu copo de whisky, tão reluzente, fresco e apaziguante; é-se atraído para este estabelecimento sempre munido de uma certa incerteza. Caminhamos tranquilamente na rua, regressando do trabalho, suponhamos, quando subitamente a fome aperta. É então que a dúvida se coloca: optar pela solução fácil (o Mac, quase sempre mesmo ali ao lado), ou cozinhar em casa, e não incorrer naquela que é, sem a menor dúvida, uma gigantesca asneira gastronómica? Mas inconscientemente os nossos passos para lá se dirigem, movidos por uma força muito superior. “De qualquer modo, não tenho nada em casa” – dizemos para nós próprios, mesmo que na verdade a nossa dispensa esteja nesse momento a regurgitar os mais saudáveis e verdejantes alimentos.
Chegados lá, como aquele que dá o primeiro gole e sente o liquido estontear-lhe os sentidos, sabe-se que não haverá retorno. Todas aquelas coisas cheias de gordura cheiram maravilhosamente, e dão-nos a espreitar um paraíso calórico repleto de sabores tranquilos e bem familiares. A combinação de molhos parece perfeita, e está ao alcance de cinco euros e um estender de mão. Já todos assistimos aos horríveis documentários sobre as actividades trucidantes e exploradoras por parte das cadeiras de fast-food, nomeadamente esta; já estamos ao corrente de que estes sabores não têm um pingo de natural, e são na realidade fabricados em laboratório… Mas que mal pode fazer uma vez? Só uma vez.
Enchemos a pança com quantidades astronómicas de tudo o que existe no mostruário. Enfardamos, e enfardamos bem, até que a meio do pacote de batatas as coisas deixem de parecer tão maravilhosas como dantes, e um ligeiro sentimento de culpa comece a despoletar, a um cantinho da mente. Mas já que aqui estamos, porque não uma sobremesa. E já que é uma sobremesa, porque não um Mcflurry com extra-chocolate e sprinkles?
Saímos de lá a rebolar, chorando e lamentando o descabido acto. Agora, que o nosso almoço não passa de um monte de pacotes e cascas de aspecto repelente, tudo no Mc Donalds parece terrível: o cheiro nauseabundo a gordura saturada, os alimentos artificiais de providência dúbia, os empregados deprimidos, os adolescentes obesos que serão um dia os nossos filhos, e netos. Como um bêbado que acorda numa valeta, de cara enterrada na sua própria poça de vómito; decidimos determinadamente que esta será a última vez. Mas haverá mais.

1 comentário:

  1. Por vezes penso que seria engraçado ser vegetariano. Ou apenas comer peixe. Por outro lado penso que, tal como na carne, também animais são mortos para nosso deleite. Fico confuso e penso em abdicar do peixe. Problema: adoro carne, adoro peixe. Como seria possível não comer carne ou peixe? Passaria a comer cereais, iogurtes, chocolate, vegetais e fruta? Isso não é comida. E por isso fico algo orgulhoso por gostar de tudo e mais alguma coisa. A comida é minha amiga.

    Mas sim, o McDonalds é um vício às vezes perigoso. Atenção, se como daquilo uma vez por ano, já estou provavelmente a entrar no campo do exagero. É raríssimo, mas há coisas parecidas que se comem durante o ano (hambúrgueres de outro estabelecimento, pizzas, francesinhas, etc.), o que me faz ver que isto está tudo mal. Mal! Estou em pânico.

    Obrigado pelo texto. Fiquei deprimido e vou enterrar a cabeça numa comida qualquer. Provavelmente uma que me fará mal.

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