terça-feira, 18 de outubro de 2011

Una boda muy especial

Ir para Sevilha de carro é sempre má ideia, quando são duas da tarde e estão 38 graus. No lugar do morto, que fez jus à sua designação, percorri o Alentejo sem sombra e sem ar condicionado, à beira da insolação. Chaparros, azinheiras e oliveiras derretiam sob o astro abrasador. As vacas magras pastavam a erva queimada de um Outubro anormal. Quando começaram as dores de cabeça, e os suores frios, deduzimos que talvez fosse boa ideia parar. Mas só para pôr gasolina em Espanha.
Pelas calçadas redondas arrastámos as malas com as melhores roupas, ou pelo menos aquelas menos susceptíveis de chegarem amarrotadas. Que excitação. Vamos a um casamento andaluz.
Voltar a Sevilha, para mim, trazia várias memorias de infância, quase todas relacionadas com comida. Dos verões de pasmaceira passados com os meus pais, aos 13 anos, no Algarve, retive aquelas pequenas viagens ao outro lado da fronteira, um quebrar na morosa rotina familiar. À memória vinha-me o sumo de orchata, os caramelos El Caserio e “aquelas batatas fritas tipo esferovite que não têm sal nenhum”. A excitação de fazer compras no El Corte Inglês, as bodegas, e o portunhol do meu pai. É tão bom poder ir a outro país em apenas algumas horas de carro.
As casas são de um género colonial que me faz lembrar o centro antigo de algumas cidades colombianas. Sabendo que, no sentido correcto, é Bogotá que recorda Sevilha, e nunca o contrário. A influência árabe também está por toda a parte: nas arcadas, nos ladrilhos das portas, e até na Catedral. Sevilha é sinuosa e arrastada, convexa, fluida em ruelas perdidas, e descansa animada sob a sombra dos jardins.
O casório espanhol começa cedo, pela hora de almoço. Meninas da cidade de vestidos berrantes cumprem o costume de usar um chapéu, ou uma flor no cabelo. Um adereço arriscado, que tanto pode estar na origem de elegâncias extremas como de algumas araras bailarinas. O copo de água tem tinto verano à fartura, e algo parecido com vinho do Porto, mas que na realidade é Manzanilla, ou coisa que o valha. A festa foi longa, longa, longa. No fim, só os portugueses aguentaram, espanhóis nem vê-los; quem disse que são eles o povo mais animado? Claramente, o Amanhã de Manhã ganhou ao A Fuego Lento. Alguns aventureiros ainda se arrastaram até ao Groucho, o bar da moda. E no dia seguinte, o calor da viagem aguentou-se bem, já que era mais tarde, e estávamos todos praticamente a dormir.

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