sábado, 5 de maio de 2012

Arte, dor e loucura


Dizia Rubem Fonseca – não ouvi, vi na imprensa – por ocasião da sua visita a Portugal aquando do festival Correntes d’Escritas, que um dos requisitos do bom escritor é ser um bocadinho louco. Acho que sim. Permito-me acrescentar outro: a dor. Não conheço praticamente nenhum grande escritor que não tenha sofrimento no seu texto. E esse vem, intui-se de uma maneira ou de outra, de uma experiência, porque, por muito imaginativos que sejamos, há sempre sensações que não podiam estar ali por outra razão. Fundos de verdade nas entrelinhas sem os quais a autenticidade seria inexistente. Acho, sinceramente, que as pessoas a quem a vida sempre correu bem, regra geral, não conseguem produzir boas peças artísticas. O criador. O cria dor. Não me quero arrogar nada. Não estou sequer a falar de mim, porque é impossível fazer-se uma autoanálise sóbria nesse sentido (se acho que escrevo bem? Sim, mas se não achasse não escrevia, por isso quem sou eu para dizer). Apenas falo do que leio. Nem que seja porque, como dizia Tolstoi, “As famílias felizes são todas iguais, as infelizes são-no cada uma à sua maneira”. Ou seja: a história, a interessante, é sempre sobre aquele que sofre. Arte sem dor não é nada. Dor que se viveu e sentiu, dor que se pariu de novo no momento repetitivo da criação. Escrever é vomitar. É aliviar uma doença que se tem dentro e que precisa de sair para nos deixar viver em paz. 

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