sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A sul de nenhum norte

Dois poemas para a revista literária "A sul de nenhum norte", de Janeiro:



AB123

Um dia, perguntas-me porquê
e eu
- coisas, sim, fiz coisas
porque estas mãos jorram torrentes e estas flores não param de morrer
as dálias estampadas num lençol amarelo
onde estivemos muitas vezes
com gente que apenas veio por uma noite
- coisas
sim, fiz coisas
e depois enrolei uma manta nos pés
não endireitei as costas, como me aconselhou o retrato
que olho de perfil, enquanto me abraço, a chover.
E lá fora é apenas Agosto
ou inverno, já não me lembro
Tantas vezes quis sair em silêncio
em vez disso, tropecei sempre nos objectos.


Hoje de manhã

pegaste no teu Mein Kampf
vestiste o roupão, sujo
Havia ainda um resto de branca à cabeceira
que com um gesto mole, limpaste
com os dedos dormentes, que importa
A esta hora, já não te satisfaziam verdades siderais
preferes contemplar a ingratidão dos outros com lentes de verdade
Saíste para comprar o jornal
tropeçaste por almofadas
sujas de ti
e eu virei-me para o lado
o gato saltou por cima
e eu virei-me para o outro lado
encontrei ainda Gin, na garrafa partida
magoei os dedos nos vidros
sempre tive bons pés para esse efeito
e é chato acordar na prisão.


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