terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Modas


Pode parecer cliché ir a correr comprar o mais recente prémio Nobel (se bem que este me foi oferecido, a pedido, no Natal) mas a verdade é que também se tratou de uma excelente desculpa para me aventurar na, até agora para mim desconhecida, literatura chinesa.
Mo Yan, dizem, sofreu na realidade muitas influências ocidentais, tais como a de Faulkener ou Garcia Marquéz – embora ele próprio diga que não as assimilou directamente, a verdade é que constituíram parte da sua escola literária. Trata-se portanto, presumo, de uma entrada soft na literatura oriental.
Esta é a saga da família Shangguan, protagonizada na primeira pessoa por Jintong, o filho mais novo de uma família de oito irmãs. Mimado e aguardadíssimo, acaba por se tornar num inútil que ainda na idade adulta ainda gosta de beber leite das mamas das mulheres com quem se envolve (podemos, na minha opinião, ver aqui uma certa vertente metafórica típica do Realismo Mágico, que aparece em vários episódios da narrativa). Permite uma visão alargada da História do pais, retratando com enorme vivacidade episódios como a invasão japonesa e a Revolução Cultural, a partir da região de Gaomi, um meio rural e extremamente pobre.
A mãe, Shangguan Lu, que permanece viva através das desgraças, guerras e maleitas físicas; faz lembrar uma Úrsula Buendia, a mulher que tudo aguenta e por quem tudo passa. A mulher, de facto, é a grande pedra basilar do livro, que acaba por lhe ser uma espécie de homenagem. Um romance que demonstra, parafraseando Howard Goldblatt, o falhando de um sistema patriarcal; em que as mulheres são estruturantes na acção, enquanto os homens na sua maior parte não passam de atracções circenses que tornam a narrativa mais colorida.
Marcado por um erotismo violento e intrusivo, com imagens inusitadas, este é um livro que enjoa e faz sorrir. Portanto, nem sempre o facto de um escritor estar na moda é mau sinal. 

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