Ela era diferente das outras – pensou M., vendo o seu corpo
estrebuchante no escuro. Analisava, a cada compasso corporal, cada canto de
pele na cinza intermitente de um nada-é-proibido. Ele agarrava-se a morder os lábios,
deitava a cabeça para trás numa expressão que lhe descobria as rugas; e nunca,
mas nunca, jurava, o tinha visto fazê-lo com tanta força. Juntou os joelhos e
coçou-os, nervosamente. Depois, decidiu-se a fazer o que sempre fazia, sem no
entanto desta vez descobrir em si o prazer de um domínio costumeiro, do alto do
seu trono de madeira. Apenas uma vaga noção de que algo estava para rebentar. Eles
continuaram, foi à cozinha buscar mais vinho.
- Vou sair – sussurrou, finalmente, pela porta entreaberta.
- E voltas?
- Sabes que sempre.
Os copos e os sons, na multidão-escuridão. Arrastas-te, como
as cadeiras, sobre as mesas os risos espalmados. Amanhã, serás melhor, mas por
enquanto transitas seminua pela tua própria inconsciência. Espremes cigarros,
agarras o gelo com força mas ele cai, vomitas lentamente, contra a parede. De que
é que estavas à espera? Foste tu. Foste tu tudo isto.
Sem comentários:
Enviar um comentário