sábado, 7 de setembro de 2013

"O problema é que são muito badalhocos"


Estudos comprovam que 1 em cada 5 portugueses já proferiu esta frase, referindo-se à comunidade gay masculina. 
Ok, estudos não comprovam, fui eu que retirei a estatística da minha fantástica experiência do mundo em geral. Mas mesmo assim, acho que não me enganarei muito nos números.

Poderia agora lançar-me num infinito ditirambo contra a homofobia que ainda está, infelizmente, generalizada na nossa sociedade. Em vez disso, sugiro-vos que andem comigo um pouco atrás na História, para um momento de nostalgia infantil:

Quando cheguei à puberdade, nasceram-me, a mim e às meninas da minha turma, umas coisas chamadas maminhas. Imediatamente, começámos a ser requisitadas para fazer algo chamado “curtir”, prática que consistia nuns beijinhos atrás de uma árvore. A quem respondesse a essa solicitação com frequência, ou apetecesse ir além dos beijinhos, era chamada de “puta”, palavrão esse que era usado com o mais comum dos vagares.
Muito cedo, as raparigas percebem que, para preservar a sua dignidade, terão de manter, quanto aos seus impulsos carnais, um relativo secretismo. Enquanto os seus companheiros serão louvados pelas suas conquistas, o mesmo, com elas, acontece geralmente ao contrário.
Flash-forward para o momento presente:
Estamos no Lux, uma distoteca betinha maioritariamente heterossexual, em que as mulheres são com frequência solicitadas para fazer todo o tipo de porcarias. É muito comum que, mesmo que lhes apeteça, não o façam. Manel atira-se a Maria à descarada. Maria acha Manel atraente e já lhe dava umas cambalhotas, mas pensa “agora não, as minhas amigas estão a ver, e Deus sabe o que vão pensar”. Xavier e Matilde tiveram um date romântico. “Não podes ir para a cama logo na primeira noite, não podes ser fácil”, diz o instinto auto-repressivo de Matilde, formado ao longo de anos de experiência nesta sociedade super igualitária em que vivemos.
Logicamente, a situação acalma-se.
Uma discoteca hetero é um lugar vagamente sensual, no qual a generalidade dos homens tenta fazer avanços à generalidade das mulheres, que, apesar de decotes brutalmente sugestivos e saltos hiper-desconfortáveis que fazem lembrar fantasias fetichistas de alto grau, recuam com caras pudicas e trejeitos coquettes, segundo lhes foi ensinado que era a boa maneira feminina.

Enquanto isso, numa discoteca gay:
João quer dormir com Manel, João dorme com Manel. José quer beijar Mário, José beija Mário. Miguel quer ir fazer coisas porcas, para o jardim, com Josefim. E por que não? Miguel faz coisas porcas, no jardim, com Josefim. Ivan quer dormir com Cláudio, António e Pedro... e adivinhem: Ivan vai dormir com Cláudio, António e Pedro. Sem problema nenhum.
O que se passa muitas vezes é que a noite gay masculina apenas representa a enorme orgia que nós já todos sonhámos pelo menos uma vez que fosse a nossa vida.
E digo isto partindo do princípio de que é claro que as pessoas que se identificam como gays não são todas badalhocas. E isto acontece porque.... as pessoas não são todas badalhocas.

Percebem onde quero chegar, amigos homofóbicos? Não, não há nenhum gene especial de badalhoquice, na homossexualidade. Há, sim, seres humanos que gostam de sexo, porque isso é essencial à perpetuação da espécie. Uns são levados a explorar esse instinto, pela sua educação, outros são levados a reprimi-lo. Tão simples quanto isso. 

4 comentários:

  1. "Há, sim, serem humanos que gostam de sexo, porque isso é essencial à perpetuação da espécie"

    ...e com uma frase se destrói a própria teoria.
    Ou és burra ou precisas de aulas de educação sexual.

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  2. Caro “Anónimo”

    Obrigada pelo seu comentário.

    Com efeito, tal como lhe terão ensinado na escola, os órgãos sexuais dos seres humanos estão designados para fazer uma coisa chamada “sexo”, que em teoria levará à tal perpetuação da espécie. Por isso também se chamam “órgãos reprodutores”.
    Essa verdade é indiscutível, e repercute-se em coisas das quais terá ouvido falar, tais como a menstruação, e o sémen (aquela coisa com bichinhos lá dentro, que depois furam os óvulos e fazem o bebé)
    No entanto, é óbvio que o ser humano, assim como a maioria dos animais, é bastante mais complexo do que os seus órgãos reprodutores. Há também um cérebro, que entre outros ocasiona todo um rol de factores que propiciam a capacidade dos seres humanos se sentirem atraídos por e amarem pessoas do mesmo género.

    Portanto, se o instinto sexual é, de facto, muito mais abrangente do que a simples perpetuação da espécie, a verdade é que esta está na sua base. Com isso querendo dizer que o sexo é uma coisa não só natural, como por inerência essencial à espécie. O que não quer dizer que seja o seu único propósito, e é aqui que entra aquela coisa de que lhe falei, chamada cérebro.

    Mas mesmo assim, caso a sua vasta mundividência ainda não tenha apercebido tal, também é possível a duas pessoas do mesmo género perpetuar a espécie, tendo filhos por via indirecta. E sim, o sexo, embora seja uma via tecnicamente infértil, pode ser um símbolo dessa união (“sinto-me atraído por ti e amo-te, logo, quero ter filhos teus, independente do teu género”).

    Espero que isto lhe faça sentido e que doravante escolha comentar os textos dos outros dando a cara, e com uma argumentação pensada e interessante. Mas percebo que as ofensas gratuitas e anónimas sejam mais fáceis: é o que acontece geralmente aos ignorantes-cobardes, categoria dentro da qual se insere o racismo, o machismo e claro, a homofobia.

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  3. [ Acerca do comentário anterior: Teresa, não se mace em responder a mascarilhas. Este blogspots não têm possibilidade de apagar entradas de comentário? (Sou novo nestas coisas) ]

    Faço uma breve observação a este seu post, com o qual, embora não radicalmente, discordo na maioria:
    Apesar de termos instintos e desejos frequentes de praticar sexo, considero o comedimento neste campo uma boa ideia. Valorizo muito a sentimento de exclusividade na relação com uma parceira, e de quase exclusividade se tivermos em conta o passado amoroso dela. Gosto que o corpo de uma mulher seja uma espécie de paisagem protegida, só acessível com esforço e mérito. E reciprocamente. Não creio e seja difícil explicar este sentimento do ponto de vista antropológico e da natureza humana. Mesmo eu, não sendo antropólogo nem afim, poderia ensaiar essa justificação, assim tivesse tempo para isso.
    Particularmente, gostaria de lhe manifestar que nunca tive uma fantasia ou desejo de me integrar uma cena de sexo com várias mulheres ao mesmo tempo (e com homens muito menos). Acho o sexo um acto a dois. Três é gente a mais.

    Saudações
    José Farinha
    Vila Fria, Oeiras


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  4. Olá José,

    Obrigada pelo seu comentário. Opiniões são sempre bem-vindas. Quando fundamentadas e honestas ainda melhor.

    Claro, eu parto aqui do princípio de que é a liberdade e os desejos de cada um que devem ser respeitados. Cada um faz o que quer e apenas o que quer. É essa, aliás, a premissa do meu texto: respeitar a liberdade de cada um, sem constrangimentos e sem preconceitos.

    Sim, há de facto a opção para apagar comentários. Mas fiz questão de publicar este, porque me parece importante mostrar que não só não devemos ter medo da ignorância e da cobardia, como devemos combaté-la.

    Um abraço

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